7:58O que é centrão

por Antonio Delfim Netto

Nos últimos 4 anos, o centrão foi fundamental na aprovação dos projetos para corrigir os efeitos da recessão (2014-16)

O Brasil está terrivelmente triste. A Pátria Amada corre risco de vida. Ao seu velório antecipado, compareceu todo o governo. O que deveria ser uma “reunião ministerial”, revelou-se um teatro de horror. Sua gravação demonstra uma estúpida ingenuidade política. Sua divulgação uma mancha infeliz na dignidade nacional.

Obviamente, isso não foi produzido pelo famoso “centrão”, aquele que, na simplificação acrítica do imaginário de Bolsonaro, incorporaria todos os males e impediria o exercício da política republicana. Tal afirmativa encontra resguardo no comportamento efetivo do tal “centrão” (seja lá o que ele for) nas votações dos últimos quatro anos? Não!

Vejamos. Neles, a Câmara dos Deputados, sob a presidência de Rodrigo Maia, aprovou pelo menos cinco leis (Lei do Teto, Reforma Trabalhista, Lei das Estatais, Lei das Agências, Reforma das Aposentadorias) e mitigou os exageros propostos pela administração portadora de preconceitos identitários de inspiração evangélica. Todas com o propósito de corrigir os efeitos da recessão (2014-16). E, recentemente, tem sido expedita na aprovação das medidas contra a pandemia, contra
os votos dos que se pensam “progressistas”.

É um fato incontroverso. Em qualquer república presidencialista multipartidária, regulada por um Estado democrático de Direito, se o presidente e o seu partido não obtiverem a maioria nas urnas, devem —necessariamente— ir ao Congresso procurar o seu “centrão”: um acordo com outros partidos para construí-la e dividir com eles o poder de administrar o país. Quem não reconhece esse fato como “natural” recusa a democracia.

Foi com essa estratégia que Bolsonaro iniciou seu projeto iliberal, “tudo o que está aí é corrupto e eu vim para matá-lo”. Negou-se a dividir o poder, identificou o “centrão” (exatamente quem se opunha aos seus excessos) com a “corrupção”, o que foi fácil num país infeliz que está sempre à espera de um “mito”. Agora confrontado, socorre-se, corretamente, do “centrão” para tentar governar, sob crítica feroz dos que ainda continuam a criminalizar a atividade política, que ele estimulou.

Nossas instituições oficiais de controle das atividades administrativas (Ministério Público e Tribunal de Contas da União) são hoje cada vez mais rigorosas, aplicadas e competentes. Ajudadas por uma imprensa livre, competitiva, esperta e investigativa, constituíram-se num eficiente e rápido sistema de contenção da corrupção. Foi isso que transformou o “velho e guloso” centrão, naquele “virtuoso centrão” que dá governabilidade a todas as democracias presidencialistas multipartidárias do mundo.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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5 ideias sobre “O que é centrão

  1. Zeloco

    O abraço da morte selado com a união do Planalto com o centrão. A falta de planos e projetos de nação faz o Brasil jogar fora seus recursos.
    Desde o princípio o azarão Bolsonaro encarna o espírito da controvérsia, incapaz de dialogar e unir forças para combater às crises.
    Quantos bilhões de reais foram enterrados em 14 mil obras paradas proveniente da era PT.
    O grande fator que emperra o desenvolvendo, além, de não de planos de crescimento é gastar e aplicar mal os recursos.
    Bolsonaro com seus seguidores evangélicos, graças ao dízimo do dinheiro público, está encaixado indevidamente no papel de Presidente, quando não passaria de um jardineiro, porteiro em Condomínio na Europa. A escolha errada, peço perdão ao Tancredo, Ulysses….

  2. Zeloco

    Virtuoso centrão: quem são eles?
    Este centrão esteve em algum momento enroscado na lava jato? Este virtuoso centrão, tem algum elemento condenado por corrupção?

  3. Soda cáustica

    O problema são os partidos associarem ao governo executivo que só pisa na bola:
    32 mil mortes por Covid19, Bolsonaro diz que todos vão morrer. Cara, isto é declaração de um líder, chefe de nação.
    O tal chefe está perdido, sem rumo. Cravou seu nome na história do maior fracasso. Rezava 10 vezes para o tempo passar na era petista, hoje rezo 100 vezes….

  4. Pingback: O que é centrão (Delfim Netto) - Blog do Manoel Afonso

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