22:38ZÉ DA SILVA

Nas ruas mal iluminadas, homens vestidos de mulher caminham para a concentração do bloco carnavalesco. Há um contraste muito grande entre eles e quem está nas calçadas esperando o Carnaval chegar. Muito bem produzidos, maquiados com esmero, vestidos que brilham, coloridos, os foliões parecem flutuar sobre os meninos e meninas de pés descalços ou com uma sandália de dedo surrada. Na passarela com esgoto a céu aberto, há o desfile dos ‘sou, mas quem não é?’, na pose do dia especial do ano inteiro. Ainda não beberam – pelo menos não o suficiente para tropeçar; apenas, talvez, uma talagada para tomar coragem. Os outros são sempre aquilo, desde os antepassados: pobres de tudo. Os pais, ao lado, parecem cansados da vida. Sambados, como dizia uma moradora do local que, antes de voltar para a cidadezinha nordestina, rodou o mundão lá do sudeste, nas duas grandes capitais. Começou! O som vem de longe. É alto. Não é um rio que passou na vida do Paulinho da Viola. É algo parecido com um córrego, de águas poluídas, onde flutuam os protagonistas. A platéia… Ela assiste – e gosta, porque só têm isso de diferente, espetáculo ao vivo, no ano.Depois, correm pra dentro das casas para ligar a televisão e assistir desfiles, ouvir fofocas, quem está com quem nos camarotes. E dormem. O rio de vida continua passando. Eles não aprenderam a nadar.

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