De Rogério Distéfano, no blogO Insulto Diário

NUM DIA o presidente (até quando ele abusará de nossa paciência?) Bolsonaro desce ao mais baixo da vulgaridade e diz, em grosseiro e chulo duplo sentido, que a jornalista Patrícia Campos Mello, ao investigar as fake news que alimentaram a eleição, procurava dar “o furo para ele”. No dia seguinte, em desagravo de deputadas federais à jornalista, o filho Eduardo interveio no debate e recomendou que elas “raspassem o sovaco…para não feder”. Registre-se que apontou a contradição das colegas ao não reprovarem o “companheiras do grelo duro”, de Lula.

O PRESIDENTE não está obrigado ao decoro; o filho, sim, porque deputado. Mas não haverá consequências: as elites querem as reformas e Bolsonaro as atende – ainda que ao preço de uma política social perversa, para a qual elas se lixam. É o primeiro presidente sem decoro, eleito exato por isso. O filho sobrevive pelo espírito de corpo do Congresso e pela fluidez da noção de decoro. É tema vadio, ocioso. Se decoro fosse valor social, o Carnaval carioca enfrentaria o debate sobre o tamanho e a funcionalidade do tapa-sexo nas celebridades rainhas de bateria.

Página virada

Alcolumbre diria o mesmo se Bolsonaro ofendesse uma filha sua?

DAVI ALCOLUMBRE, presidente do Senado, comenta a ofensa de Jair Bolsonaro à jornalista Patrícia Campos Mello: “É pagina virada, porque já aconteceu”. Página virada é a mutreta de estender para 33 anos de idade o seguro-saúde que o Senado paga para os filhos de seus funcionários, decisão de Alcolumbre.

Se página virada criasse jurisprudência não haveria impeachment, nem cassação de mandatos. Virar a página é argumento cínico, hipócrita, de cúmplice para abafar o erro. Uma pergunta: Alcolumbre diria o mesmo se Bolsonaro ofendesse uma filha sua? Melhor calar que dizer essa estupidez apenas para fazer média com as mulheres da imprensa.

Quem dera Davi Alcolumbre fosse página virada. Dificilmente acontecerá, por obra e desgraça dos poucos eleitores necessários para elegê-lo no colégio eleitoral rarefeito que a ditadura criou nos antigos territórios para equilibrar no Congresso os votos, obtidos aos milhares, pelas bancadas do Sudeste.