7:09Pequeno poema autoexplicativo

de Valdeci Lizarte

Hoje ou nunca mais
É a terceira vez que passa em frente à minha casa só depois que o dia amanheceu.
A caminhada noturna deve ter sido longa – e ainda não terminou.
O dia revela o que a escuridão tentou esconder, mas não conseguiu: caminha rápido, como se isso pudesse torná-lo invisível. Risível, sim.
Olha só pra baixo, como se quisesse disfarçar a identidade. Ou estivesse à procura de algo que não perdeu. E que não irá encontrar. Não hoje.
Tem olhos, mas não vê. Tem ouvidos, mas não ouve. Sequer sente.
Em breve virá o arrependimento, eu sei bem como é. Tudo tem preço. Alguns, são maiores que a própria vida. A morte não usa boletos.
Já não sei se esse que passa é outro ou eu mesmo num espelho que reflete o ontem. Por isso, não julgo. Nem poderia.
Mas hoje eu decido meu destino. E só por hoje reconheço quais dores não preciso mais sentir.
Só hoje vou desviar meu olhar mais crítico de mim mesmo. E assim serei capaz de ser o que sou e de sentir o que sinto, sem medo.
Só por hoje  meus olhos estão voltados para o céu e não mais para a lama dos meus sapatos. Mas só por hoje.
E que o Poder Superior que vigia o mundo oriente esse que, assim como eu, passa.
Mas ao contrário de mim, não sente. Não hoje. E talvez nunca mais.
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