8:14Somos todos Janot

Por Dirceu Pio

Isto não é psicanálise. É apenas o retrato nu e cru de uma verdade ! A paixão que sentimos pelos entes queridos – filhos, pai, mãe, esposa – posterga-se por dentro, no escondido da alma, e é raro que revele a sua força sobre-humana, muitas vezes homicida ou suicida, não se sabe.

Relembro aqui dois fatos que aconteceram comigo…neles, vi-me na condição em que deve ter-se sentido o ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot, ao entrar armado no STF determinado a matar o ministro Gilmar Mendes depois que este ofendeu sua filha advogada, publicamente. No livro ainda inédito, Janot conta que estava decidido a matar Mendes e depois se suicidar.

SUSANA, MINHA PAIXÃO

Junho de 1972. Eu era recém casado com Susana e viajávamos no meu primeiro carro, um fusca 1964, eu no volante e ela como passageira do meu lado. Chovia e ao ultrapassar um ônibus na área urbana de Jundiaí bati de frente com um Karmann Ghia vermelho; passado o susto, olhei para ela e vi seu rosto banhado de sangue.

Entrei em pânico ! Só fui me restabelecer uma hora depois quando o médico de um PS das proximidades, para onde fomos levados por transeuntes, revelou que não havia acontecido nada de grave com ela…foram apenas escoriações !

O episódio serviu para eu medir a intensidade da minha paixão pela mulher que permanece já há quase cinquenta anos do meu lado e com quem eu teria quatro filhos, todos já adultos. Ai de mim se o acidente a tivesse ferido com maior gravidade !

SÓ TRATOR PRA DAR JEITO

Fevereiro de 1992. Meu fusca 1964 já havia se transformado numa caminhonete de cabine dupla que eu mal sabia dirigir.

Havíamos passado quase 30 dias de férias em Imbituba, Santa Catarina, e chegara o momento de voltar para São Paulo.

Pusemos toda a bagagem no carro e saímos por volta das 14 horas com sol quente.

Rodamos menos de um quilômetro e desabou uma chuva forte, pesada. Tínhamos de subir um ladeira íngreme, de terra. No meio da ladeira, o carro encalhou; e encalhado, derrapou na lama e atravessou a pista, interditando-a.

Chegaram amigos numa pequena caminhonete e sugeriram levar-me para chamar um trator, pois só este poderia puxar meu carro e desinterditar a pista.

Antes de embarcar na picape, vi que dois jovens chegavam ao local de carro, queriam passar por ali para chegar até à famosa Praia do Rosa onde iriam surfar. Desceram do carro e começaram a dizer bobagens:

– Esses bacanas estúpidos vêm para as nossas praias gozar as férias com essas caminhonetes de luxo e ainda bloqueiam as rodovias…merecem levar umas pauladas no lombo !



EU, JANOT

Voltamos dali a meia hora com o trator. Meu amigo, o pescador Aldo, que ficara à nossa espera em sua casa próxima dali, – havíamos combinado de passar por lá para nos despedirmos dele – foi ao nosso encontro, viu a minha caminhonete atravessada na pista e parou com disposição de ajudar…Susana e meus quatro filhos desceram a ladeira e ficaram lá embaixo à espera do desencalhe.

Vizinhos do local trouxeram uma corda e Aldo e um dos surfistas entram embaixo da caminhonete para amarrá-la e permitir que o trator a arrastasse. De repente, Aldo e o surfista saem aos berros debaixo da caminhonete e trocam socos na minha frente.
Aldo contou-me que lá em baixo o surfista começou a me dirigir mais desaforos, o que o irritou!


Achei tudo um tanto absurdo, mas exortei o Aldo para se acalmar e não tornar tudo ainda mais complicado. O trator, que teve de desbastar um barranco para puxar a caminhonete de frente, arrasta meu carro – eu ao volante – finalmente para local plano e seguro.

Tive de voltar a pé ao local onde tudo aconteceu e, quando olho lá para baixo, vejo a cena aterradora: ambos os surfistas, tentam esmurrar meu amigo Aldo por cima da cabeça e ombros da minha mulher e meus filhos.

Desci a ladeira já transformado no Janot que tentou matar Gilmar Mendes: quando chego lá embaixo, vejo Aldo caído no chão e os dois surfistas em cima dele.

Minhas vistas escureceram e até hoje não me lembro do que aconteceu exatamente. Susana me conta que eu peguei uma pedra de uns cinco quilos e, se meu filho mais velho, Eli, de apenas 14 anos, não a tivesse tirado das minhas mãos eu tinha esmagado a cabeça de um dos agressores.

O episódio serviu-me para medir a força incontrolável das minhas paixões, que presumo seja a mesma de todas as pessoas com sangue nas veias.

Soube alguns meses depois que um dos surfistas se matou com uma lâmina de madeira usada para consertar a prancha.

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6 ideias sobre “Somos todos Janot

  1. Oto Lindenbrock Neto

    O sr Dirceu Pio, como jornalista adorador de informações oficiais (deve ser viciado em press-releases) forma suas convicções pelo que não leu. Afirma que é solidário aos sentimentos primevos de Rodrigo Janot porque Gilmar Mendes teria ofendido a filha dele (Janot). Duas inverdades: Mendes não ofendeu a filha de Janot. Foi o jornalista Reinaldo Azevedo – á época na revista Veja- quem publicou que a filha de Janot fazia parte da banca de advogados das empreiteiras OAS e Odebrecht, o que causaria para o então procurador geral um impedimento ético. A ofensa era a revelação, que não foi desmentida porque a informação era pública e constava nas páginas virtuais das empreiteiras, que foram pesquisadas por Azevedo para publicar a informação. Janot atribuiu a Gilmar o vazamento da ofensa que não era ofensa (afinal ser advogada de empresas não caracteriza crime, tampouco suscita difamação, injúria ou calúnia). O sr. Pio é um homem de fé, como procuradores e um famoso ex-juiz. Forma convicções com base na fé. O que é muito bonito. A fé remove montanhas, dizem. Cura, o que é fato também. Mas por vezes cega. Cria ódios, desencadeia guerras, atentados, execuções sumárias. Como toda criação humana, pode ser o céu. Mas também o inferno. Cordiais saudações.

  2. Franco

    Otto – meias -verdades….
    A “ofensa” foi a insinuação que a filha de Janot advogava criminalmente para uma empreiteira, sendo que ela só atuava na esfera administrativa…
    Ora, mas não é a mesma coisa? Perguntaria Otto. Não, pois o contexto foi que Gilmarzão Tucano se viu acuado quando foi exposto que sua patroa advogava na esfera criminal para uma das partes. Daí Gilmarzão do PSDB ficou bravinho, desfraldou os beiços e “respondeu” algo como … – “É, mas a filha do Janot também….”
    A propósito: Lula deve ir pro semi aberto e usar tornozeleira eletrônica e, pela primeira vez em muitas décadas, trabalhar.

  3. Oto Lindenbrock Neto

    Pois é Franco. Advogada de esfera administrativa ou criminal é pretexto para despertar instintos assassinos. Como escrevi anteriormente, a fé remove montanhas…

  4. Dirceu Pio

    Obrigado, Franco…é isso aí ! Deus nos livre da turma do Lula Livre e da bandeira vermelha….quando não têm nenhum argumento para atacar, inventam…abraço grande

  5. Rock

    Você Dirceu Pio já deve ser um velho pela história que conta, a turma do Lula livre a qual me incluo não é do mal conforme vc. quer fazer parecer, somos todos trabalhadores e sabemos das culpas que Lula possa ter e posso afirmar que são bem menores que as suas, isso observo só de ver o ódio que carrega contra alguém que nunca lhe fez mal algum e acho que nem sabe da sua triste existência, então cuide o resto de vida que ainda tem para viver e viva sem ódio e deixe a justiça decidir se Lula é ou não culpado das acusações que lhes impõe, mas seja digno e torça que a justiça seja feita por alguém que não seja seletivo e tão cheio de ódio como o sr. que tem mágoas de Lula que repito não deve saber da existência de alguém tão amargo como o sr. demonstra ser a ponto de por uma briga inconsequente chegou a por a vida de um jovem em risco, coisa que Lula o qual o sr. tanto odeia nunca o fez. E bandeira vermelha só engana gente que vive ainda na era do rádio onde era fácil manipular as pessoas através do medo, hoje vivemos a era da internet onde bobagens como essa felizmente só existe na cabeça de pessoas maldosas como o senhor não por que acredita nelas mas as usa para por medo nos desavisados. Finalmente a única coisa que me arrependo é de ter perdido alguns minutos de minha vida de fazer a leitura de seu texto o qual é totalmente desnecessário e não entendo por que o carequinha lhe dá espaço para expor seu ódio em sua página.

  6. Dirceu Pio

    “Velho”, “carequinha”, rock – assim mesmo, com minúscula – e tão jovem e tão lotado de velhos preconceitos…ao menos se soubesse escrever….passe bem, mas cuidado que lá vem o trem…

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