20:00ZÉ DA SILVA

Depois de meio século pastando, recebo cartinha avisando que meu benefício do INSS estará disponível a partir do décimo dia do próximo mês. Logo depois, vinte bancos me telefonam oferecendo empréstimo consignado porque têm certeza de que estou lascado nas contas. Recuso tudo com sorriso beatificado no rosto, seja lá o que isso quer dizer. A teoria matemática mais simples, aprendida ainda no primário: se você tem zero, milão garantido por mês é uma fortuna. Enfiei o cano da máquina na boca do dono da GTS/AMG, o cara tirou o relógio do pulso, molhou a calça de grife apertadinha, boca estreita, combinando com camisa com manga dobradinha, músculos de academia, mas eu queria só dar uma volta na máquina. Pedi para ele ligar o motor. Gostei do ronco. Mandei sair do torpedo, dispensei o cebolão que vale uns 30 paus. Entrei no carro e saí na maciota, porque Mercedes a gente não queima pneu, só desliza para depois voar. Aterrissei até Sampa, cheguei na madruga e deixei a máquina atravessada e trancada numa das pistas em frente ao MASP. Fiquei sentado numa mureta esperando o forrobodó. Foi demais. Então peguei o metrô, fui até a rodoviária e entrei num Cometão de volta para minha cidade. Dormi na viagem. Foi legal. Mais legal vai ser quando pingar os trocos no meu bolso. Prometo não fazer mais o que fiz. Pra quê mais emoções?

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