12:07Em Foz do Iguaçu, vereadores presos voltam à Câmara e pedem salários retroativos

Do jornal O Globo, em reportagem de Henrique Gomes Batista

Acostumada à fama de suas imponentes cataratas, Foz do Iguaçu, no Paraná, ganhou outro tipo de visibilidade nos últimos três anos. Nesse período, passou de exemplo de combate à corrupção a símbolo da impunidade na política. A história começou em 2016, quando a Operação Pecúlio, da Polícia Federal, colocou atrás das grades não só o prefeito, mas nada menos do que 12 dos 15 vereadores. A princípio chocada com as denúncias, a população acabou sentindo orgulho por ver a cidade se destacar pela intolerância às ilegalidades. Sensação que duraria bem pouco, com a volta dos acusados ao poder.

Não bastasse isso, os vereadores reconduzidos planejam pedir o recebimento de salários pelos 27 meses em que ficaram afastados da Câmara — cada um espera ganhar R$ 300 mil. O que só ampliou a indignação da população.

Acusação de mensalinho

Então prefeito, Reni Pereira (PSB) foi o primeiro a ser enquadrado, em abril de 2016. Acusado de operar um esquema de desvios de dinheiro com o pagamento de “mensalinho” para facilitar a aprovação de projetos no município, acabou preso e deixou a política local. Em outubro daquele ano, seu antecessor, Paulo MacDonald (PDT), foi eleito para um novo mandato. Sua candidatura, no entanto, estava sub judice por acusações de improbidade administrativa, dano ao Erário e enriquecimento ilícito, e a vitória nas urnas acabou anulada em dezembro, antes de iniciar o mandato. A gestão ficou provisória até a escolha de um novo prefeito, em abril de 2017.

Três dias após a impugnação do prefeito, uma nova fase da Operação Pecúlio levou à cadeia 12 dos 15 vereadores. Outros dois foram conduzidos coercitivamente para depoimento. A Câmara Municipal vivia os últimos dias da legislatura, mas cinco dos vereadores detidos haviam sido reeleitos. Como as prisões eram preventivas, eles puderam assumir seus cargos. Na posse, em 1º de janeiro de 2017, o grupo teve de ser escoltado pela polícia para entrar na Câmara, sob protestos da população.

Com as denúncias, a Câmara abriu processo de cassação, e os cinco reeleitos “presos” tiveram seus mandatos cassados por quebra de decoro. Problemas processuais na contagem dos prazos, no entanto, fizeram com que as cassações fossem revertidas no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná. Assim, nos últimos dois meses, os vereadores foram voltando ao poder: o último reassumiu o cargo no dia 13 de agosto.

— Acreditei que a mudança era para valer, com prefeito preso, eleição anulada. Só um vereador escapou da prisão ou de ser obrigado a depor. Mas aos poucos voltou ao que era antes. É revoltante, tudo acabou em pizza — reclamou a diarista Cláudia Oliveira.

Os políticos envolvidos tratam de colocar panos quentes.

— Vamos esquecer o passado e servir a cidade — afirma o vereador Beni Rodrigues (PSB), que chegou a ser preso, mas agora preside a Câmara desde janeiro. — Tudo foi uma armação baseada em delação, aqui ninguém foi pego com mala de dinheiro — disse.

A Pecúlio gerou 98 réus. O processo está na fase de depoimentos e ainda não há um julgamento sequer. Procurador do Ministério Público Federal do Paraná, Juliano Baggio Gasperin explica a demora:

— Processos com esta complexidade acabam levando mais tempo — disse ele, completando que a Justiça tem aos poucos proferido sentenças de casos anteriores à Operação Pecúlio, com condenações e absolvições, mas que os julgamentos ainda não chegaram à operação principal.

Único vereador a escapar ileso da Pecúlio e hoje vice-prefeito e secretário de Saúde, Nilton Bobato (PCdoB) vê impactos da corrupção no cotidiano da população.

— Quando chegamos ao governo havia um rombo de R$ 100 milhões e o índice de mortalidade infantil estava em alta — destaca.

Guilherme Wojciechowski, coordenador da Rádio RCI Iguassu, resume o sentimento de boa parte dos moradores e faz uma previsão para as próximas eleições:

— Hoje o iguaçuense vê os integrantes da classe política local com um pé atrás, o que pode favorecer candidaturas de pessoas não identificadas como “políticos”.

 

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