10:15Por uma estrada

por Mário Montanha Teixeira Filho

O passar do tempo me fez perder o gosto pelo futebol. Alguma coisa restou, é certo, a essência do que um dia foi. Não me emocionam os times atuais, com seus esquemas previsíveis, executados por jogadores moderninhos e técnicos acovardados. Os clubes espalhados pelo mundo carecem de simpatia, exceto o meu, ainda que preserve muito pouco daquilo que me encantou num tempo remoto. Sobreviveram as cores fortes e a insistência do meu coração em acompanhar jogos desinteressantes, buscar notícias que sempre são as mesmas, acalentar sonhos de criança, os sonhos que se recusam a fugir de mim.

Lembranças que ficaram na minha cabeça padecem de solidão, quase todas. Não as reparto com ninguém, porque isso demandaria aborrecimentos sociais, contrários à objetividade imposta pelas regras da elegância virtual, e despertaria a raiva de inimigos que nem sei quem são. Envelheci, e trouxe comigo, para a minha velhice, uma bola de couro e uma camisa de algodão gravada com o símbolo de um amor que não morre.

Seguimos, nós três, a bola, a camisa e eu, transformado no menino que um dia habitou o meu corpo, por uma estrada que nos leva ao desconhecido. É para lá que vamos, sem pressa nem medo.

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