11:15KKKK é a sogra

De Rogério Distéfano, no blogO Insulto Diário

“DESCULPE, isso é emoji, emoticon é outra coisa”. Era o amigo, jovem amigo, na amizade e na idade, a me corrigir a confusão dos bichinhos do WhatsApp: o emoji é o imóvel, o emoticon o móvel. Os dois expressam, como os nomes quase dizem, as emoções a serem transmitidas sem palavras. Perdão,  uma sem palavras, outra com gargalhadas.

COISAS DA INTERNET, que se entende ou não se entende. A internet é gestáltica, capta-se o significado sem buscar o significante, como na racionalidade trivial, essa coisa dispensável que Zenão de Elea, passa por Descartes e vem até Kant. O jovem amigo explicou com uma leveza de fazer inveja. Ele me dá inveja. Em muitas coisas.

EMOJI, emoticon, aquela diferença projetou-me ao momento em que assisti famoso advogado explicar ao gerente do estacionamento em que deixávamos os carros a diferença entre os imperativos de Kant, o categórico e o hipotético. Com a mesma expressão aparvalhada do gerente, conclui que emoji é o categórico e emoticon, o hipotético.

FOI O QUE BASTOU, decidi sair do WhatsApp como o ministro Sergio Moro pulou fora do Telegram. Por outros motivos, como o professor, também de direito penal, que dizia assinar a revista Playboy “pelos artigos”. Rompeu comigo quando perguntei se segurava a revista com uma ou com as duas mãos.

CANSEI do WhatsApp, que seguro com a mão esquerda enquanto escrevo com a direita. Tipo o ‘leitor’ da Playboy. Fossem os emojis e emoticons passava. Mas tem as onomatopéias malucas -doença infantil da internet como um todo: os kkkk, os rs rs rs, os ha ha ha. O jovem amigo, que as usa comigo, dissertou sobre a liturgia da onomatopéia cibernética.

KKKK, por exemplo, de obrigatório escreve-se com 4 letras, o limite da gargalhada em certo tom (que não me esclareceu). Rs rs rs, necessariamente acontecem em trio, um risinho à socapa, tímido, educado. Quanto ao ha ha ha três vezes só pode ser riso falso, irônico, se viesse para mim me ofenderia. Isso não me passa.

AO FIM DO DIA o jovem amigo manda mensagem, sempre no WhatsApp. Sem emoticon ou emoji. No entanto, para acrescer a ofensa ao desrespeito, aplica nada menos que 8 kkkk ao texto. A amizade periclita, mas a correspondência acabou. Talvez entre no aplicativo inventado por minha sogra.

A PROVECTA e respeitável dama, 98 anos rígidos, lúcidos e bem vividos, não usa celular. Aposentou-se na época em que surgiu a internet. Continua aplicada à máquina de escrever, mãos firmes, dedos ágeis, escreve bilhetes e os entrega à empregada – que os fotografa no seu  celular (dela, empregada) e remete aos destinatários.

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