10:52Não será desta vez

De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário

O QUEBRA DO DECORO como causa para perda do mandato tem um histórico interessante no Brasil: é comum entre deputados e senadores, rara entre governadores e inexistente entre presidentes. Por que isso? Simples, deputados, senadores e governadores sempre estiveram menos expostos ao exame da sociedade. Daí que não se sintam constrangidos no criar situações de quebra de decoro. E nesse âmbito, a quebra do decoro, nos sentidos rigorosos do léxico e da lei, tem sido real, efetiva.

ATÉ ONDE eu saiba, nenhum presidente da república perdeu o mandato por quebra de decoro. Nenhum. Os dois impeachments presidenciais de nossa história ocorreram por outras causas, o crime de responsabilidade, atos de ilegalidade qualificada no julgamento político. Decoro, repito, nenhum. Por quê? Os presidentes do Brasil, piores que sejam, resguardam para efeitos exteriores a dignidade do cargo. Decoro é isso, coisa simples: dignidade do cargo.

MAS O BRASIL nunca teve um presidente como Jair Bolsonaro. Tivemos o espalhafato de Fernando Collor, a jequice de José Sarney, a caipirice de Itamar Franco, a simplicidade chã e genial de Lula e a tolice cristalina e patética de Dilma Rousseff. Mas todos praticavam o decoro na forma exterior de comportamento e atitude exigida pelo alto cargo. A exigência do decoro foi rompida, ignorada porque desconhecida, uma trava psicológica, pelo atual presidente.

JAIR BOLSONARO está pronto para ser levado a impeachment por quebra de decoro. Seria o primeiro? Desde ontem passou-se a falar muito disso. O advogado e professor Miguel Reale Júnior, autor do pedido de impeachment de Dilma, vai além e diz que o caso de Bolsonaro é outro, de interdição, a restrição à capacidade civil de doentes mentais. Jair Bolsonaro será o primeiro presidente brasileiro a ser cassado por quebra de decoro? Difícil, praticamente impossível.

O PRESIDENTE não cairia por quebra de decoro porque tem apoio de uma bancada que depende dele e a seu modo fere o decoro em tons e decibéis tão ou mais altos que os dele. Bancada da câmara dos deputados, competente para acolher o pedido de impeachment (no Senado, sem maioria, a cassação até passaria). Mais: os eleitores de Bolsonaro, a julgar pelo que mostram nas ruas e nas redes sociais, tampouco são exemplares no decoro, pois aplaudem e defendem as loucuras indecorosas do líder.

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2 ideias sobre “Não será desta vez

  1. Jose

    Rogério, Café Filho em 1955 não sofreu impeachment também?
    Na época JK havia sido eleito, mas uma “ala” não aceitava isso, Café Filho e Carlos Luz foram destituídos pelo congresso.

  2. Parreiras Rodrigues

    Tô me lixando para o presidente da OAB, mas essa do JMB de feri-lo falando merda a respeito do assassinato do pai dele – claro que foi, foi a gota que faltava. Que se quebre o decoro e que esse presidente seja obrigado a assistir aulas de boas maneiras, educação comportamental, e aprender que arrotar em público é muito feio. Peidar então…

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