6:44Só para “os queras”

por Thea Tavares

A política tem umas máximas, uns jargões, que a gente volta e meia dá razão ou se pega repetindo-os. Quando menos percebe, já ajudou na perpetuação de um certo dogma. Uma dessas máximas é a primeira que você se vê papagaiando sem aviso prévio: “não existe espaço vazio na política”. Uma outra forma de dizer que “ninguém é insubstituível”. E não é mesmo! Pode até fazer falta ou essa ausência servir para a redução de certo padrão – a exemplo de renovações que só pioram a representação popular -, mas a fila voa.

Às vezes, nem dá tempo de desocupar a moita e já tem sucessor pegando o vácuo no encalço da função, com a mesma intenção de não sair de lá tão cedo. Longe de fazer coro à criminalização banal que virou moda por aí, mas a comparação com o tráfico de drogas é inevitável. Mal um chefão cai, tem branquinho, neguinho, amarelinho saindo pelo ladrão para assumir o comando da parada. Chorar a perda? Só se for para garantir uma bela de uma selfie e postar nas redes sociais. O troço é mais emocionante que documentário sobre corrida de espermatozóides para fecundar o óvulo e gerar, desse encontro, outro postulante ao poder na sociedade. A velocidade com que se dá essa sucessão é algo impressionante. Por um lugar ao Sol ou para tomar posse do próprio astro-rei, loteá-lo e vendê-lo no mercado, nem Forrest Gump, a Lola, os corredores de Carruagens de Fogo e o Papa-Léguas alcançam.

O futebol também tem uma versão para esse dito: nesse jogo, “quem não faz, leva”! Então, se você está a fim de perder uma oportunidade ou deixar um espaço vazio na disputa política, tenha apenas uma certeza, a de que esse espaço não lhe pertence mais. A diferença é que no futebol a partida só acaba quando de fato termina. Após o advento do V.A.R. (Video Assistant Referee ou, no bom e velho Português, “árbitro assistente de vídeo”), leva-se mais tempo até ouvirmos o som do apito final, mas uma hora o jogo acaba e ponto. Na política, até a sombra do infeliz sai espalhando rumores sobre sua desistência antes mesmo da decisão ser tomada. Pensou em sair, desabafou com alguém? Já são o primeiro e o segundo passos porta à fora! Quanto mais demorar para se decidir, mais distante estará do retorno.

Quando o candidato vira sinônimo de lentidão, ele vai de noiva pretendida no passado para espalha-rodas. Todo mundo foge dele ou o descarta de pronto. Há aqueles ainda que adiam a decisão só para valorizar o próprio passe. Ele cisca em tudo quanto é terreiro antes de decidir se vai ou se fica. No fundo, não vai para canto nenhum e acaba só levando a pior, mas com estilo e manutenção da pose de superioridade. A omissão por vezes também só prejudica. Uma amiga trouxe lá do interior uma máxima e costuma chamar os que padecem desse defeito da omissão de “garnizé que cisca pro lado”, ou seja, não tem postura. Leonel Brizola, muito ligeiro em lidar com as situações mais inusitadas da política, consolidou a máxima sobre as traições ou as tentativas dela. Quem nunca se viu dizendo que se o camarada ainda não pulou pro outro lado, estaria “costeando o alambrado”? Essa veio do Brizolão. Como se diz lá pela terra dele também, com o peito estufado de orgulho: esse se não for gaúcho, nasceu na divisa.

Aconselhando recentemente uma pessoa que se dizia vítima de puxação de tapete, tasquei-lhe logo a introdução do manual de sobrevivência nessa arena bárbara: ou você se impõe, marca seu território de maneira bem clara, ou se especializa na arte de puxar saco. Se você acha que nunca vai aprender essa segunda saída do problema, o jeito é meter o pé na porta, dizer a que veio, dar uma de louco, espernear, bagunçar a zorra toda e cavar seu quinhão. Não tem caminho fácil, não. Mas é uma forma mais digna de galgar conquistas.

Infelizmente, o que deveria ser um campo de debates e de construções coletivas, visando o bem comum, está repleto de disputas que só por meio do protagonismo e da determinação pessoal é que se obtém condições de sobrevivência, superação e êxitos. Volta e meia vemos alguém elogiar alguém: “esse aí não é fraco”! Não é mesmo. Para o bem ou para o mal, só os “queras” ocupam os espaços que existem. Você vai virar e protestar: “E o atual chefe do Executivo federal?”.  Eu disse “para o bem ou para o mal”, não foi? Vamos combinar que para quera, quera, esse aí não serve, mas enquanto estiver a serviço dos interesses de quem realmente faz girar a roda, vai continuar ocupando a tal da moita e fazendo lá o que tanto lhe é peculiar. A vaidade nesse palco é o pior dos pecados. Nos coloca diante de outra máxima: o peixe morre pela boca!

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