7:40Moro, pede pra sair

por Elio Gaspari

Permanência do doutor no governo ofende a moral, o bom senso e a lei da gravidade

As conversas impróprias de Sergio Moro com o procurador Deltan Dallagnol enodoaram a Lava Jato e fragilizaram a condenação imposta a Lula pelo tríplex de Guarujá (SP). Se isso fosse pouco, a postura arrogante do ministro da Justiça nas horas seguintes às revelações do site The Intercept Brasil, obriga muitos daqueles que gostariam de defendê-lo a ficar no papel de bobos: “Basta ler o que se tem lá e verificar que o fato grave é a invasão criminosa do celular dos procuradores”. Antes fosse. O fato grave é ver um juiz, numa rede de papos, cobrando do Ministério Público a realização de “operações”, oferecendo uma testemunha a um procurador, propondo e consultando-o a respeito de estratégias.

As mensagens de Moro e de Deltan deram um tom bananeiro à credibilidade da Operação Lava Jato e mudaram o eixo do debate nacional em torno de seus propósitos. O ministro e o procurador reagiram como imperadores ofendidos, tocando o realejo da invasão de privacidade. Parolagem. Dispunham de uma rede oficial e segura para trocar mensagens e decidiram tratar de assuntos oficiais numa rede chumbrega e privada. Noves fora essa batatada, precisam explicar o conteúdo de suas falas. Sem explicações, a presença dos dois nos seus cargos ofende a moral e o bom senso. No caso de Moro, ofende também a lei da gravidade. Ele entrou no governo amparando Jair Bolsonaro e agora depende de seu amparo. Se o capitão soltar, ele cai.

Em nome de um objetivo maior, a Lava Jato e Moro cometeram inúmeros pecados factuais e algumas exorbitâncias, tais como o uso das prisões preventivas como forma de pressão para levar os acusados às delações premiadas. Como não houve réu-delator que fosse inocente, o exorbitante tornou-se conveniente. Ao longo dos anos, Moro e os procuradores cultivaram e, em alguns casos, manipularam a opinião pública. Agora precisam respeitá-la.

Uma das revelações mais tenebrosas das mensagens é aquela em que, dias depois de divulgar o conteúdo do grampo de uma conversa da presidente Dilma Rousseff com Lula, Moro diz que “não me arrependo do levantamento do sigilo, era a melhor decisão, mas a reação está ruim”.

Não houve “levantamento”, mas quebra, pois a conversa foi interceptada depois que expirara o prazo para as escutas. Dias depois de cometer a exorbitância, Moro explicou-se ao ministro Teori Zavascki com uma argumentação desconexa, até sonsa.

A conversa de Dilma com Lula deu-se no dia 16 de março de 2016, quando eles concluíam a armação da ida do ex-presidente para a Casa Civil.

A reportagem do The Intercept Brasil informa que às 12h44 Moro e Deltan discutiram a divulgação “mesmo com a nomeação”. Sabia-se que Dilma pretendia nomear Lula, mas o telefonema só ocorreu às 13h22. Às 15h27 Deltan disse que sua posição era de “abrir” o assunto e às 18h40 ele estava no ar, detonando a manobra do comissariado petista.

Para quem tinha esse objetivo, foi um sucesso, mas não está combinado que juízes e procuradores se metam em coisas desse tipo. O viés militante de Moro e Deltan na Lava Jato afasta-os do devido processo legal, aproximando-os da República do Galeão, instalada em 1954 em cima de um inquérito policial militar que desaguou no suicídio de Getúlio Vargas.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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8 ideias sobre “Moro, pede pra sair

  1. Parreiras Rodrigues

    E pensar que comprei os livros que ele, Gaspari, escreveu sobre a Ditadura. E se diz jornalista…

  2. José Roberto Pedreira

    Não se deram contam que a vaidade se tornaria um monstro, deu nisso.

  3. juarez

    A justiça é cega, mas seus operadores não são idiotas. Derrubar a maior rede de corrupção do planeta, só fez bem aos brasileiros. Mas, tem gente que ainda não acredita no benefício. Tolinhos !!

  4. Paranaense

    Parreiras Rodrigues: Se comprou os livros do Elio Gaspari sobre a ditadura, espero que os tenha lido. Exemplo de história bem contada. Somente um bom jornalista seria capaz de produzi-la.

  5. valdir

    O país mostra a sua verdadeira cara: toda proteção aos ladrões, corruptos, incompetentes, quadrilheiros, oportunistas, aventureiros, aproveitadores, gigolôs do dinheiro público… do PT, PSDB, PP, DEM, PSB, PSOL, PDT e demais partidos. O nosso destino é sermos reféns dessa cambada!!!

  6. marcos

    Bom seria se o governo fosse do PT, não é mesmo Gaspari ?, o lula seria presidente ou chefe de gabinete, o Zé Dirceu seria presidente da Petrobrás, e por aí vai….Há e vc claro, seria Ministro da Imprensa, né VAGABUNDOS.

  7. luis henrique

    Quanta ignorancia desses comentaristas. Essa Lava Jato é uma farsa, utilizada pelo Moro e procuradores para encurtarem caminhos e subir na vida. fosse por missão como tentam dizer, não cobrariam em palestras, não aceitariam cargo de ministro, se demitiria quando souberam que o filho do presidente desvia valores de servidores.
    alem de tudo isso, eles recuperaram algo como 12 bilhões de reais, mas só a petrobras pagou aos investidores americanos mais de 30 bilhões de reais.(ainda faltam mais 3 ações correndo lá na justiça americana.
    qual a logica disso minha gente?
    Dallagnol, Moro e toda essa corja tem que acabar na cadeia.
    Qual direito eles tinham de usar suas canetas “publicas”, seus cargos para interferir nas eleições?
    Eles influenciaram o resultado.
    Não venham me dizer que sou Hadadd ou de esquerda que eu não sou, muito pelo contrario.
    Imoralidade não tem lado. Tem imoral na direita e também na esquerda.
    O que eles fizeram é crime, é imoral, é ilegal. Mesmo que fosse por boa vontade, vontade de acabar com a corrupção, o que evidentemente não foi.

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