19:02ZÉ DA SILVA

Fiquei vazio de palavras, buscando no fundo da mente algo que me trouxesse o alimento da alma, do ego, do sossego. Nada. Pensei no farrapo humano que bebia porque não escrevia. Lorota de bêbado. Ele não escrevia porque bebia. Billy Wilder colocou uma garrafa para fora do prédio, pendurada por um barbante. Esconderijo. Então lembrei daquele que, para disfarçar o indisfarçável, deixava o litrão amarrado na âncora do barco, lá no fundo – e mergulhava para beber ao lado dos peixinhos. Ou então outro que, no clube, fez acordo com o garçom e ficava esperando ele passar e jogar a garrafinha, que ia buscar no mergulho e bebia ali mesmo. Um dia inteiro assim, sem sair da piscina. Depois, fim da tarde, o susto de quem viu a pele do corpo dele enrugada e sem cor. Nunca precisei disso. Bebia pra morrer nos bares mais sórdidos. Cansei de contar isso para meus amigos – todos bêbados que não se envenenam mais. Sobre a mesa, água, refrigerantes, sucos. Nessas ocasiões, embriagados sempre ficamos – de alegria.

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