19:29ZÉ DA SILVA

Cicatrizes na pele servem para sonhos, pesadelos e invenção de histórias. Tenho no pescoço, nos braços, no peito do pé, nas coxas. Furado de todo jeito. Mas estas só rendem lembranças que reforçam o bem estar do presente. Agulhas furam e cortam. Sem fio elas esgarçam os tecidos e aumentam o buraco da alma. A do joelho, não. Foi cirurgia mesmo. Tendão rompido por desgaste. Foto registrando tudo por dentro. Costura mal feita. Sobrou uma estrada larga e branca que chama atenção. O que foi isso? Digo que na guerra do Vietnã, lutando como voluntário contra o Império, mina explodindo um amigo, estilhaço rompendo o joelho, ianques fugindo com as calças na mão, o milagre da recuperação. Rio diante de olhos esbugalhados. Cicatrizes. As de dentro doem. Em intervalos. Um não tira a pino da granada interna. Quando vai desaparecer? Talvez na escuridão eterna. Talvez.

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