19:08ZÉ DA SILVA

Anotei tudo numa caderneta pequena, fechada com elástico. Foram alguns meses viajando por países e cidades que via no globo terrestre – este que está aqui ao lado. Dos antigos, herança. Um dia rodei, rodei e, a cada parada, fechava os olhos, espetava o indicador e anotava no roteiro. Fui a todos os lugares sorteados. Não me perguntem sobre o dinheiro, os gastos. Fiz os roteiros turísticos de cada lugar, mas também invadi subterrâneos, andei, andei e andei até o fim das cidades, em todas as direções. Fui ao gueto dos ricos, dos médios. E anotei. Sem abrir a boca para dizer uma palavra. A batida do coração é quem mandava escrever. Tudo está ali, guardado. Retornei ao meu canto muito tempo depois. Coloquei meu tesouro numa daquelas pastas de guardar documentos. Na etiqueta que preguei bem no meio, escrevi “viagem”. Não sei se tenho medo de ler o que está lá. Sei que, se abrir, o encanto vai embora.

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