12:20Oberlan Rossetim

Ele estava distante do amanhecer. Sentia-se trêmulo, como se alguém pensasse nele. A madrugada não estava mais à sua disposição. Não mais podia brincar de esconde-esconde com a vida. Todo incômodo deveria vir à tona na sua rastejante existência. Sua potência era ainda lagarta. Era a aurora, era a hora, era o sangue que escorria do seu abandono. Ele pertencia mais às margens do rio do que ao centro do círculo. O ar ingênuo e fresco da manhã circulava pela casa e desenhava inexistências, ausências. Sofrimento pelo o que não chegou. A imaginação ocupou os campos em que você nunca pisou, e quando as invenções transbordaram, surgiram concretamente em forma de saudade. As flores estragaram-lhe a poesia. Os passarinhos orquestrais eram o ponto onde desembarcavam os seus mistérios. Ele, jovem de barba e cabelos brancos, nunca pensou que o desejo lhe pintaria como parede. E nessa parede branca de passados ele poderá grafitar seus medos. Seu rosto da cidade era a periferia. Era o que ele preferia, não sabia e nunca diria.

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