20:10ZÉ DA SILVA

David Lynch foi parar em Cabo Frio. Quando entrei pela primeira vez naquela sala que levava aos quartos no prédio anexo do hotel a beira-mar, foi o que pensei. Era um outro mundo, mas real – e que de tão surreal, com sofás, plantas de plástico, mesinha de centro com tampo de vidro, revistas em cima, tapetes velhos e cafonas, parecia afugentar as pessoas, pois em vários dias de estadia nunca vi ninguém ali. O espaço, enorme, penetrava na retina da alma assim que era visto através da porta no final de uma passarela de madeira que vinha lá da piscina de águas turvas. Fotografar era preciso – e foi o que fiz toda vez que ali entrei: de dia, de noite, de madrugada. No quarto olhava pela janela aquele mar brilhante e via o vento forte balançando as palmeiras. Virava as costas, abria a porta e… Uma composição escalafobética de cores, paredes pesadas, como se não pertencessem nem àquele hotel, nem a nada, só a David Lynch. Ele estava ali – e foi uma experiência e tanto encontrá-lo.

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