7:33Destruição em marcha

por Mário Montanha Teixeira Filho

Para os que se esforçam em manter o otimismo, o mundo real insiste na velha máxima: o que está ruim sempre pode piorar. Faço essa observação desanimada logo após reler a primeira colaboração minha para o blog do Zé Beto, nos dias que se seguiram ao resultado da eleição presidencial de 2018 (“Cemitério Brasil”, de 31/10/18). Eu afirmava, então, que, sob a liderança do capitão Jair Messias Bolsonaro, o Brasil se transformaria num cemitério gigantesco. O sentido do termo era metafórico, e a sua utilização vinha de uma análise rápida do discurso de ódio tantas vezes proferido pelo eleito durante a sua longa e medíocre carreira política.

No final do texto, eu ainda imaginava que as “forças” que sustentaram a candidatura tosca e escancaradamente boçal tratariam de lhe conferir uma aparência de civilidade, importante para a preservação da imagem do País no cenário internacional. Engano. Tão logo tomou posse, Bolsonaro fez questão de consolidar o estilo agressivo que multiplicou votos à custa de mentiras espalhadas em redes sociais. Como um touro enfurecido, anunciou que governaria somente para a parte do País que compactua com as suas ideias atabalhoadas, e desandou a praticar atos incompatíveis com a solenidade do cargo que ocupa agora.

Foi o começo. Vieram, em seguida, os nomes dos titulares dos ministérios, identificados em grupos: os bizarros, os olavistas e os neoliberais, entre outras categorias estranhas, todos descomprometidos com os anseios da maioria da população. Em apenas três meses de governo, os vexames protagonizados por essa gente, como não poderia deixar de ser numa estrutura executiva como a que se instaurou em Brasília, cresceram sem parar. Viramos treva, troça, vergonha mundial.

Não vou discorrer sobre isso, mas sobre o que me parece mais preocupante ainda: os muitos indícios que sugerem vínculos terríveis entre o núcleo do Estado e as milícias que atuam no Rio de Janeiro, base eleitoral de Bolsonaro e seus filhos, a violência institucionalizada, os assassinatos de pessoas pobres, a execução de Marielle e seu motorista, os oitenta tiros “acidentais” que destruíram (mais) uma família no subúrbio carioca num fim de semana triste, a exaltação da tortura e da falta de liberdade, a censura, o envenenamento do meio ambiente, os ataques enlouquecidos à ciência e à universidade e o oportunismo religioso. Ninguém dirá que Bolsonaro foi diretamente responsável por essas tragédias, mas o cenário de luta permanente que as envolve tem tudo a ver com a estética “vencedora”. Entramos na era da bala, dos berros de comando e da eliminação física dos “divergentes”. É assustador.

Aos poucos, a imagem do cemitério se converte, mesmo, na realidade de um país dominado pela negação da racionalidade. Aqui, o meu erro foi dimensionar para baixo as consequências deste tempo. Mas ao menos uma observação daquelas antigas eu posso repetir: “Venha o que vier, há retrocessos que já se consumaram. Retrocessos políticos, culturais e de costumes. O Brasil de hoje é um país carrancudo, excludente, careta, individualista, preconceituoso e desumano, submetido à narrativa de intolerância que as urnas consagraram”.

Que sejam breves, pois, os dias de horror e destruição que nos ameaçam.

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7 ideias sobre “Destruição em marcha

  1. SERGIO SILVESTRE

    Que pensar de um povo que elege um miliciano ao invés de eleger um professor.
    Pelos comentários a seguir vai ver o quanto esse Pais está cinza,o povo a um passo da barbárie,e muitos divididos até entre familiares.Essa é a doutrina praticada pelos homens maus,esse vai ser o lema dos brasileiros nos próximos 20 anos até chegar o armagedon.

  2. Swissblue

    O Brasil vem de

    8 anos de FHC
    8 anos de LULA
    6 anos de DILMA
    2 anos de TEMER

    Temos

    14 milhões de desempregados
    60 mil assassinatos por ano
    Corrupção em todas as esferas
    educação falida, etc

    E ESQUERDISTA reclama de 100 dias de governo BOLSONARO?

    Ah, vá!

  3. Franco

    Como choram as viúvas… Querem em 100 dias o que não quiseram em 18 anos…
    Escritor: do outro lado estava o PT… Isso mesmo, o PT do Lula, Zé Dirceu. Dilma… Estamos no lucro ao ver essa corja longe do poder. Aceita que dói menos.

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