7:26Eca, que nojo!

por Sérgio Rodrigues

Neurocientista diz que gente de direita é mais sensível a imagens repugnantes

A foto fez sucesso nas redes sociais no dia 31 de março, aniversário do golpe de Estado de 1964, que inaugurou uma ditadura de duas décadas no Brasil (o dia preciso é 1º de abril, mas isso não vem ao caso agora). Mostra uma jovem ex-candidata derrotada à Assembleia Legislativa de São Paulo agredindo uma mulher com um jato de spray de pimenta nos olhos.

Contexto: a borrifadora estava na avenida Paulista para, atendendo à convocação do presidente da República democraticamente eleito, comemorar uma data funesta para a democracia brasileira. A outra pertencia ao grupo dos que lá estavam para boicotar a festa da direita bolsonarista.

O que importa aqui é menos o contexto do que a imagem em si. As duas personagens ficarão sem nome porque não há heroísmo em nenhum dos lados. Trata-se de uma cena violenta mas, convenhamos, até banal nas democracias, aqueles regimes em que as pessoas podem se manifestar politicamente. O que talvez vá além da banalidade é a cara de nojinho da moça da pimenta.

Como observou alguém no Twitter, sua expressão facial e corporal é a de quem, diante de uma barata encontrada na cozinha e sem coragem para enfrentá-la com o chinelo, descarrega-lhe em cima meia lata de inseticida.

Não poderia haver ilustração melhor para uma reportagem que li outro dia na revista The Atlantic. O título resume tudo: “Liberais e conservadores reagem de forma totalmente diferente a imagens repulsivas”. (Liberais e conservadores são termos que devem ser entendidos aqui no sentido americano, grosseiramente equivalentes à nossa divisão esquerda-direita.)

O texto fala de uma experiência conduzida pelo neurocientista Read Montague, da universidade Virginia Tech, por sugestão de um grupo de cientistas políticos. Estes desejavam testar a hipótese de que, além de fatores conhecidos como educação e posição socioeconômica, haveria um componente bioquímico a influenciar nossas posturas ideológicas.

Cético a princípio, Montague acabou topando monitorar por ressonância magnética a atividade cerebral de 83 voluntários enquanto lhes eram apresentadas imagens neutras ou com forte carga emocional –destas, algumas agradáveis e outras revoltantes, nojentas. Em seguida, cada um preencheu um questionário sobre temas políticos e sociais.

O cruzamento dos dois conjuntos de dados, exames de imagem e questionários, impressionou o neurocientista. “Meu queixo caiu”, declarou à revista. Os cérebros de gente de direita reagiam de forma muito mais forte às imagens repugnantes. A diferença era tão marcante que os scans permitiam prever posição ideológica com 95% de acerto.

O modo de interpretar esses dados é tema aberto, mas uma hipótese central se impõe. Nossa resposta cerebral de repulsa diante de animais asquerosos e cenas de imundície, traço evolutivo que ajudou a espécie a sobreviver, poderia nos levar, se muito aguçada, a tratar diversos tipos de diferença social, racial e comportamental como ameaças tão imediatas quanto um ninho de ratos no porão.

Não ponho a mão no fogo pelo achado de Montague. Se me parece óbvio que as ciências biológicas e as ciências humanas têm um profícuo diálogo pela frente, o péssimo uso que se fez desse cruzamento há menos de cem anos recomenda a manutenção de um pé atrás: naturalizar o que é histórico também é uma ideia nojenta. Mas que a moça do spray parece dar razão ao neurocientista, parece.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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2 ideias sobre “Eca, que nojo!

  1. Ademar Luiz Vieira

    Parabéns pela matéria.
    Isso nos mostra que o pessoal da direita tem muito mais coração do que os da esquerda.
    Quando vemos fotos ou filmes a sensibilidade da turma da direita é bem maior do que os da esquerda.
    Lembro quando meus avós contavam das atrocidades praticadas pelo regime de Fidel Castro o qual mandava MATAR sem dó e nem piedade os seus adversários e ou as pessoas que apenas não gostavam do PARTIDO COMUNISTA ( Padres , Freiras, Pastores e etc )
    Vemos no atual Brasil a imprensa de ESQUERDA ( jornalistas de gaveta ) gritando de que a direita é do mal.
    Quem é do mal ?
    vejamos países em que a esquerda dominou ou domina até hoje.
    veja se lá existe direito ? lá só tem deveres
    Russia, Cuba, Venezuela, Bolivia, Nicaraguá, Antiga Iuguslávia etc.
    Para esses jornalistas da esquerda (de gaveta) o PAREDÃO era natural.

  2. a verdade está lá fora

    Estão lacrando até na ciência.
    Será que estrelas da direita ou da esquerda bilham mais?
    Será que vão descobrir se as bactérias atacam mais uma ou outra ideologia?
    Qual é o partido da letra Z?
    O PI é de direita ou esquerda???

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