21:25ZÉ DA SILVA

Cabeças decapitadas e penduradas lado a lado para o desfile macabro da guerra nunca saíram da minha mente. Uma Luger no coldre do militar também. Acabar de ouvir Wanderlea cantando “Exército do Surf” e dizendo que, sim, nós somos jovens, para entrar numa dessa, onde parecia haver um inimigo em cada curva da estrada de Santos… Foi lá que fiz meu batismo de fumaça e, no fim da serpente cinza, de frente para o mar, ouvi João Bosco cantar os poemas de Aldir Blanc no Caça à Raposa. Não  sabia que havia uma vida a desvendar só com a cara – e sem coragem. Um dia a viatura parou na frente do bar e, antes que achassem a pacoteira maldita dentro da cueca, dei o carteiraço. Aleluia, irmão! Dispensado. Agora fico testando o fio de uma das navalhas no dedão gordo da mão esquerda. Ela está pronta. Abri avenidas e a dor subjuga a outra. De sempre. Porque vi cabeças decapitadas na foto que ficou famosa antes de o Império perder para os vietcongs. Um drink com napalm me faria bem, mas não bebo mais. Sou sobrevivente.

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