7:58Essa menina é um achado!

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Amybeth McNulty, Anne com e

por Célio Heitor Guimarães

Se você, como eu, não suporta mais a descarga de notícias sobre Bolsonaro, Temer, Trump, reforma previdenciária, infanticídio, feminicídio, violência nas escolas, assaltos, sequestros, assassinatos e temas assemelhados que a TV nos impõe diariamente, mas é assinante da provedora Netflix de filmes e seriados, aceite um conselho amigo: esqueça do “Jornal Nacional” e assista à série “Anne With an E”.

Parece uma bobagem, mas não é. Produção canadense, baseada no livro “Anne of Green Gables”, de Lucy Maud Montgomery, escrito em 1908, é uma delícia. Além de bem feito, o seriado (por enquanto em duas temporadas, com sete e dez episódios, respectivamente) aborda temas ainda hoje tabus ou controvertidos – imagine-se então no início do século passado: feminismo, adoção, bullying, diferença de gênero, homossexualismo, amizade, direitos humanos, carência afetiva, rejeição social, conceito de família, casamento e a presença feminina na sociedade. De uma forma leve, eficiente e decididamente cativante. Se assistir ao primeiro episódio, dificilmente você deixará a ir aos demais.

Anne Shirley – vivida pela notável Amybeth McNulty – é uma pequena órfã, que se acha “a coisa mais horrível do mundo”, pois é ruiva e tem sardas, e é adotada por um casal de irmãos solteiros e de meia-idade que preferia um menino. Além do que, Anne (“com e”) tem a língua solta e excesso de imaginação, numa época em que até pensar era pecado.

De outro lado, como bem observa a resenhista Aline Pereira, “a série discute um tema ainda não muito presente na cultura pop, ao menos não de forma tão intensa, que é o sentimento da criança” e comprova que “sentimentos complexos, confusão e sofrimento não são exclusividade do mundo adulto e que a autonomia e a identidade de uma pessoa já nascem com ela”.

“Anne With na E” (não sei porque não mais se traduzem os títulos, já que “Anne com E” estaria muito bem posto) poderia ser uma comédia, mas não é, ainda que faça rir. Mais do que isso: faz refletir. E muito bem ao espectador.

Produzida pela cadeia canadense de TV CBC, a série foi adaptada pela escritora Moira Walley-Beckett, vencedora do prêmio Emmy, e tem como cenário natural a Ilha do Príncipe Eduardo, terra natal de Lucy Montgomery, e locais do sul de Ontário.

A terceira temporada já foi confirmada pela Netflix.

– A nossa querida Anne terá 16 anos quando voltarmos. O ano será cheio de complicações românticas, ousadas aventuras e dramáticas descobertas – adianta a roteirista Moira, arrematando: “Esperamos continuar conversando, divertindo e inspirando o nosso público”.

A plateia agradece.

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