7:22Para sempre

por Mário Montanha Teixeira Filho

Foram as cores. As cores rubro-negras espalhadas num pedaço de pano – uma pequena bandeira – despertaram em mim a primeira paixão. Paixão de criança, que só fez aumentar durante toda a minha vida. Era 1968, ano que, dizem, não terminou. Era tempo de revoluções, no mundo em guerra fria e no meu coração que esquentava. As primeiras lágrimas num estádio vieram logo depois. Meus olhos acompanharam o destino trágico que aproximou a bola da cabeça de Paulo Vecchio, aos quarenta e seis minutos de uma decisão que não se apaga da memória, para decretar o gol-ladrão, carrasco da nossa alegria. Perdemos. E continuamos a perder durante muitos dos anos seguintes. O delírio dos que desceram e subiram a serra em 1970, na festa tardia dos campeões em Paranaguá, parecia congelado. Estaríamos condenados ao fracasso eterno?

Sabíamos que não. Contra a lógica dos quadrados, dos disciplinadores, dos chatos, subvertemos a ordem quando subverter era pecado de morte. Amamos intensamente quando amar era perigoso. Levantamo-nos, plenos de energia, cada vez que nosso desaparecimento se anunciava. Ao som do hino emocionante, fomos à luta – em casa, na Baixada velha, ou em qualquer outro lugar, em qualquer um dos exílios a que a vida nos submeteu. Resistimos, enfim, marcados pelo tempo que destrói e renova.

São as cores, as cores rubro-negras, quanto mistério! Cores que desbotam para se encher de brilho depois. E mais brilho, e mais, e mais… Movimento contínuo, para sempre, como é para sempre o Clube Atlético Paranaense.

(Com esse pequeno texto, publicado originalmente em 26/3/08, renovo minha homenagem ao Clube Atlético Paranaense – escrito assim, como o conheci –, paixão que sobrevive em mim e em ‘milhões de corações brasileiros’, e que hoje completa 95 anos. Ave, Furacão!)

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2 ideias sobre “Para sempre

  1. Ademar Luiz Vieira

    Parabéns pela cronica.
    Lembro muito desse jogo.
    Estava deitado e com a rádio de pilhas escutando o jogo, estava eufórico , pois com esse resultado seríamos campeões.
    Daí vem o gol do Coxa.
    Foi uma noite muito longa de choro e soluços.
    O resultado desse jogo me fez um Athleticano muito mais forte.
    Tinha nesse ano 10 anos de idade.
    Parabéns ATHLETICO PELOS 95 ANOS.

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