18:10Garis, pitucas e turibulário

De Rogério Distéfano, no blog O Insulto Diário

A ombudslady do Insulto puxa para a caminhada, seis quilômetros no mínimo, passo de corruíra. Centro da cidade, linha reta da Marechal Deodoro até Coronel Dulcídio, via Rua das Flores, Praça Osório e Comendador Araújo. Os garis burocrática e lentamente a catar lixo, sem reconstruir as cestas de lixo vandalizadas durante a noite. Mais ocupados em remover ervas daninhas das calçadas que outra coisa – pra quê  isso, gente? Parece que o prefeito leu lord Keynes sobre o pleno emprego, aquilo de enterrar e depois desenterrar garrafas na praia para evitar gente desocupada; os velhinhos garis de Curitiba têm essa visibilidade social, senhores sociólogos.

Dois dias depois da catadupa e das enchentes no Centro, o que se vê? Além das cestas de lixo vandalizadas, copos, sacos e garrafas plásticas pela rua – não raro ao lado das cestas, o que indica não só o teor alcoólico como a indiferença do consumidores-cidadãos-sociopatas-do-cotidiano. Três quilômetros, e só para argumentar, como dizem os advogados, chega-se à Coronel Dulcídio, altura da Avenida Batel. Ali o point da bebedeira de rua, o Shopping Novo Batel: uma quadra pintalgada de pitucas de cigarro. Nenhum compromisso dos donos de bares em (1) limpar, (2) prover a rua de cinzeiros e (3) orientar seus consumidores. Onde vai parar isso tudo? Nas bocas de lobo, causando enchentes em córregos.

Mas isso é apenas o lado naturalmente delinquente do cidadão, essa coisa de somenos, atávica e inafastável do caráter brasileiro. Pior é a ausência do poder público, da prefeitura, do prefeito que se diz do primeiro mundo, que usa camisas quadriculadas de nobre inglês e não põe a fiscalização e a guarda municipal para agir. Pior, muito pior que isso, é assistir esse prefeito sofismar na televisão sobre causas dos danos causados pela chuva – que ele só não imputa a São Pedro pelo temor da repressão ao coroinha que dele não se desprende, sempre envolto nos fumos de turibulário (poupe a ida ao Google: é aquele moleque que vai na frente da procissão com o bastão do incenso).

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.