por Tom Cardoso
Amo Salvador. Algumas particularidades soteropolitanas:
O “não” vem sempre no final.
– Vocês trabalham como reserva?
– Trabalhamos com reserva, não.
– Tem lugar disponível?
– Nesse exato momento tem lugar disponível, não.
Às vezes, dependendo do tamanho da frase, é sofrido esse suspense soteropolitano.
Quando o baiano começa uma frase com “pronto”, não se iluda: não está pronto. E vai demorar
– É da recepção? Caiu o sinal da internet aqui no quarto.
– Pronto, vou mandar um técnico.
Quando o baiano diz que “tem”, também não comemore: ele pode não ter.
– Tem aspirina?
– Tem, mas acabou.
Você pode ser Ministro do Supremo, membro da Al Qaeda, se você chegar em Salvador só com notas de 50, fatalmente vai morrer de fome. O troco aqui, chamado de “miúdo”, é mais valorizado que cigarro na cadeia.
– Quero uma água de coco, dois picolés capelinha, duas cadeiras e um guarda sol e duas cervejas Quanto dá?
– Pronto, 43 reais.
– Tem troco para 50?
– Tem troco para 50, não.
– Poxa, não tem mesmo troco?
– Tem, mas acabou.