17:02Dois encontros

Ele foi meu advogado de defesa numa ação movida por um calhorda escroto que continua por aí pedindo para apanhar na cara, porque gosta disso. Bati escrevendo, dez anos depois de ser acusado de corrupto pela besta quadrada (à época o também advogado se retratou do que disse, no ar, ao ser prensado pelos advogados da empresa em que eu trabalhava). Mas isso não vem ao caso, apesar de eu me arrepender de não ter enchido de pancada aquela fachada imbecil, ao invés de esperar friamente a hora certa da vingança. Perdemos a ação, o jornal pagou, e só vim a conhecer pessoalmente José Cid Campelo há pouco tempo. Fui então presenteado com um agradecimento que guardarei para sempre, porque sincero e emocionante. Era sobre um texto que escrevi anos atrás a respeito de um integrante de sua família, que também conheço, além de outro mestre no Direito, José Cid Campelo Filho, com quem iniciei amizade ao trabalharmos juntos no segundo governo de Jaime Lerner- ele secretário, eu chefe da redação da Comunicação. Nos encontramos por acaso – na loja de manutenção dos respectivos aparelhos de audição. Eu olhei e arrisquei um “Doutor Cid?”. Ele abriu um sorriso e, ao me apresentar, falou, com o coração: “Que bom! Só assim agradeço pessoalmente o que você fez pelo meu neto. Guardei aquele texto que me emocionou muito e foi extremamente claro na defesa e sobre o problema da doença tão incompreendida”. Me deu um abraço e foi ao atendimento da fonoaudióloga. Hoje mesmo estava conversando pelo tal uáti sobre o que vale mesmo na vida – e a arte dos encontros é fundamental, como bem disse o poetinha Vinicius. O meu com José Cid Campelo foi assim, duas vezes nos 87 anos dele e nos meus 65. Pensando agora nisso, ao receber a notícia de que ele encantou, me veio de novo a certeza de que o conheci bem, pelo que sempre ouvi e li a respeito, por aquele gesto e, principalmente, porque, José Cid Campelo deixou ao filho e ao neto a herança do que de fato interessa, ilumina e os faz seguir a caminhada- porque eles são ele.

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3 ideias sobre “Dois encontros

  1. GERSON GUELMANN

    Tive oportunidade de dizer ao Filho, hoje, que o Pai era uma dessas pessoas para as quais não há reposição.

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