O Papa Chico me viu na Praça São Pedro – e me chamou. Fui. Ele não disse nada, apenas me canonizou na hora. Não, não como santo, mas como anjo – e com bilau. Coloquei a sunga de tricô do Gabeira, que comprei em leilão anos depois de ele voltar do exílio, para não constranger as famílias. Voei direto para Saint Tropez, na Costa Azul, para ver se Brigite Bardot ainda dava um caldo. Me encantei com uma baleia que ela mantinha numa piscina, mas não havia espaço para dois. Dali fui ver o palácio onde os Stones gravaram Exile on Main Street. Tinha uma placa de vende-se, escrita em brasileiro. Sem bolso e sem documento, me restou ouvir Happy e confirmar que Keith Richards sempre foi a alma da banda, por isso sobreviveu, cheirou as cinzas do pai, trocou os dentes e hoje ri à toa. Sim, achei a faca que ele carregava e que o fez pensar em furar um polícia, mas isso era naqueles tempos… tempos de que mesmo? Não lembro. Só que sou um ex-anjo sem asas e com muitos defeitos de caráter. Voo a jato, aqui no chão, e tento pensar algo no turbilhão da mente caleidoscópica. O Papa cassou minha canonização. Disse apenas que conversou pelo telefone azul celeste com Ele – e recebeu a ordem. Pelo sinal, da santa cruz! Eu carrego a minha, de isopor, porque cavalo não sobe escada, como dizia o Ibrahim Sued.
Desconheço que Ibrahim Sued tenha dito que “cavalo não sobe escada”… O que Ibrahim dizia era “Olho vivo, porque cavalo não DESCE escada”… Mas, vai que…