De Fernando e Emanuel Muniz
“Largue esse celular. E plante lavandas. Chega de apatia, porque não dá mais para se deixar levar. É preciso resistir à boçalidade ao nosso redor. É hora de consumir um mundo melhor”.
Ele revisa a postagem e se sente feliz, em estado de gratidão. Gosta do impacto daquelas palavras; solta um suspiro de dever cumprido e aperta o botão de envio. Pronto.
Coloca um chinelo de cânhamo e monta em sua bike de bambu. Zero de pegadas de carbono até o momento, graças a um aplicativo que baixou em seu celular, que avalia todos os movimentos e atos que pratica. Integração completa com a aldeia global.
Pedala suave, sentindo a brisa. Observa o mundo em volta e pensa em como ele pode ser melhorado. Por sinal, faz quinze minutos que postou seu manifesto e, até agora, ninguém reagiu. Nem curtidas, nem comentários. Estranho. A rua em que está, cheia de prédios dilapidados, deve fazer sombra na rede. Mas logo estará no calçadão; junto à praia o sinal é melhor.
O sol, forte, traz sede. Passa pela banca de sucos naturais e resolve parar. A bebida, de frutas produzidas de modo sustentável, por pequenos produtores rurais, refresca a alma. Tudo é bom. Fazer o bem é bom. Postar ideias que fazem um mundo melhor é ótimo.
Sobe na bike e volta à ciclovia, obra de políticos que entendem as novas necessidades sociais. Verifica a tela do celular assim que começa a atravessar a avenida e, peraí, um primeiro comentário à sua postagem! Não pode deixar de ler; interrompe o passeio ali mesmo.
E um ônibus o atinge, em cheio.
[1] Escrito em parceria com Emanuel Muniz.
Essa parceria vai longe!!
Parabéns pelo conto!!