por Fernando Muniz
O padre anota os pecados e as penitências em um caderno, para não ser injusto. “Padre, fiz mau juízo da minha mulher”. Ele vira as páginas com força, irritado. Não aguenta mais a falta de imaginação dos fiéis. “Dois pais-nossos, duas ave-marias e uma glória a deus”.
E a manhã de domingo, calorenta, segue sem novidades até que o padre começa a sentir cólicas. Põe a cabeça para fora do confessionário e chama o sacristão, que se apavora. “Mas eu não sei que penitências devo impor”! O padre, apertado, quase grita. “É só procurar nas minhas anotações e repetir”. E dispara rumo ao banheiro.
A fila volta a andar e, dali a pouco, surge um pecado que não está na lista. “Padre, dormi com um homem”.
O sacristão folheia o caderno, mas não encontra nem pista do que dizer. Olha para a nave da igreja e observa os raios que descem rente à porta de entrada, longe de onde ele está. E agora?
Escuta passos por trás do confessionário; é um coroinha. Milagre! “Ei, o que o padre dá para quem dá a bunda”?
O coroinha olha para os lados, coça a cabeça e resolve colaborar. “Ó, pros outros eu não sei, mas pra mim foi dois pastel e uma coca-cola”.