12:37Noel

por Fernando Muniz 

Apesar dos 30º C, coloca a barba, veste o casaco e coloca o chapéu. Arruma o cinto, que não dá conta de segurar a barriga, enorme desde que, devido a uma queda, ficou quase um ano quase sem se mexer. Mas já passou. Hoje é dia de comemoração.

Desce do jipe e apanha o saco. Antes de se anunciar, verifica quantos doces trouxe. Devem ser suficientes. Ano passado não fez a conta direito e acabou levando pedradas. Mas não é coisa de criança. Ah, não é. São adultos.

Não que levar pedradas seja novidade; no começo miravam no jipe, transformado em trenó. Impressionante como acertavam as renas, decapitadas depois da terceira ou quarta parada.

Xingamentos, então, nem leva mais a sério. Nomes de todo tipo, como se existisse algum motivo obscuro que o levasse a distribuir doces ou brincar com crianças. Se fosse prestar atenção em tudo o que dizem, nem sairia de casa.

Procura o sino, presente do seu pai, que antes dele passeava pela vizinhança tal qual uma bola vermelha. Ele se admirava com a felicidade dos amigos e resolveu que, quando crescesse, faria o mesmo.

Vê as crianças descendo a rua, em bando, barulhentas, atropelando umas às outras. Por instinto passa a mão sobre a cicatriz no supercílio direito, atingido anos atrás. Decerto alguém que perdeu as esperanças. Um resignado qualquer.

Mas deixa de se ocupar com os males do mundo assim que vê a primeira mãozinha aberta.

À espera dos seus caramelos.

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