A magia não era colocar meias e encontrá-las com presentes. Não fazia isso. A magia era ter a janela. Ou então comprar uma enorme Bíblia e dar de presente para a mãe, por causa da capa marrom com letras douradas. Nunca li, mas ali dentro estavam as palavras. O vinho bebido às escondidas que terminaram no vexame no meio da sala de uma vizinha, não foi nada. Mostrou que era possível depois ficar sem – e a vida seguir como deve ser vivida. Se dar a bicicleta como presente, ela laranja, freio no pé, e ficar indo e vindo na rua de terra ao lado da igreja do bairro… Fruto do trabalho. Quanta lição vendo de longe, para trás, entranhada para sempre na alma. A mesma, sempre, do mesmo menino que hoje, já velho, sabe que a janela era mesmo mágica, principalmente porque se abria para tudo.