6:35Eleito escolhe general da Lava Jato para missão de atacar crime organizado

por Luiz Weber

De qualquer perspectiva que se olhe —com ou sem VAR— foi um salto triplo carpado com rodopio executado à perfeição. Ao escolher o juiz Sergio Moro para pasta da Justiça plus size, Jair Bolsonaro chamou para seu governo um quatro estrelas do esquadrão da Força Simbólica. Ele mesmo um presidente-ideia, o antipetista, o capitão reformado atraiu para Brasília uma outra mensagem de igual força: Moro é representação síntese do combate à corrupção.

Pode parecer que Bolsonaro caiu na armadilha de uma negociação soma zero: perde com a entrada do juiz. O problema estaria no status do novo ministro, que seria indemissível pelo prestígio conquistado. Brasília é uma Asgard burocrática. A caneta presidencial é o martelo de Thor. Nem Moro está imune.
O juiz pode, sim, ser o FHC de Itamar —um personagem maior em busca de seu Plano Real da Corrupção. Por enquanto, só o presidente eleito capitalizou.

No governo, Moro terá que enfrentar, além de mirar os malfeitos da política, as rebeliões de presídios, os crimes financeiros, o tráfico de drogas na fronteira e a parada de armas nos morros. Se a economia patinar e tudo se resumir a giros de carrossel desses dois mitos, com tuítes e operações reprisadas, a opinião pública se cansa e pula o brinquedo.

Chamado de soldado pelo presidente eleito, ele sabe que o teatro de operações do combate à corrupção será na capital.

Moro colocou na cadeia o ex-presidente Lula, o ex-todo-poderoso da Fazenda Antonio Palocci e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Não quis ser o ex-juiz da Vara Curitiba.

A batalha da Lava Jato não se trava mais em Curitiba. Aí as operações escassearam, os holofotes se apagaram, as narrativas criminais agora envolvem personagens menores, incapazes de alimentar o farfalhar das redes sociais.

Estudioso da Mani Pulite, da qual a Lava Jato é cópia carbono, Moro sabe que na Itália operação foi minada pelo backlash das elites legislativa e judiciária —e quando a cobertura da mídia perdeu intensidade.

No milenar livro “A Arte da Guerra”, há uma virtude exigida de bons comandantes: dominar a arte de manipular os deslocamentos dos inimigos.

A Lava Jato entrou em sua fase de recursos. Logo, processos-chave sairão da órbita de Curitiba e do TRF-4. Tudo ocorrerá em outro plano simbólico e material —em Brasília, no Congresso, no Superior Tribunal de Justiça, no Supremo Tribunal Federal. Moro se antecipa. Sempre foi um soldado com uma missão: combater a corrupção.

Com essa transferência, questões essenciais surgirão. A execução da pena após segunda instância será mantida? As delações serão garantidas? O entendimento atual sobre o alcance da lavagem de dinheiro permanecerá íntegro? Apesar da sintonia atual das decisões de Curitiba com a opinião pública, o STF deverá debatê-las, ajustá-las, se assim entender. No campo do direito, não há inimigos. Nem um super Moro pode pensar assim.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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