5:34Bolsonaro venceu. E agora?

por Célio Heitor Guimarães

Pois é, e agora? Estará salva a pátria? Acabou o lulopetismo e acabará a corrupção, a violência, a criminalidade e a patifaria? Se com um cabo e um soldado, o capitão Bolsonaro seria capaz de fechar o Supremo Tribunal Federal, imaginem com dois generais (um na vice-presidência e outro no Comando do Exército) e 57,7 milhões de recrutas espalhados pelo Brasil!… Tempos felizes nos esperam.

E isso me remete a uma fábula contada por Rubem Alves à netinha dele:

“Num país distante, havia, outrora, um rei que amava os queijos acima de tudo. Aconteceu, entretanto, que, naquele país, além do rei e do povo, havia outros seres que também gostavam de queijo: os ratos. Atraídos pelo cheiro que saía do palácio, os ratos mudaram-se para lá aos milhares e passaram a banquetear-se com os queijos reais. Além do que, premidos por imperativos digestivos, os ratos tinham que expelir o que haviam engolido e foram espalhando pelo palácio um rastro de minúsculos cocozinhos, durinhos e malcheirosos.

Furioso, o rei chamou seus ministros e indagou-lhes:

– Que fazer para nos livrarmos dos ratos?

– É fácil, majestade – responderam-lhe. “Basta trazer os gatos”.

Felicíssimo com a ideia brilhante, o rei mandou trazer uma centena de gatos. Os ratos, ao verem os gatos, fugiram apavorados. E os gatos encheram o palácio. À semelhança dos ratos, porém, os gatos comiam tudo o que viam e, compelidos pelas mesmas exigências fisiológicas, cobriram os brilhantes pisos palacianos com seus cocôs fedorentos.

Furibundo, o monarca convocou seus ministros e perguntou-lhes:

– Que fazer para nos livrarmos dos gatos?

– É fácil, majestade, Basta trazer os cachorros – foi a resposta.

E vieram os cachorros, de todos os tipos e tamanhos.

Ao verem os cachorros, os gatos fugiram espavoridos. Os cachorros encheram o palácio. E a mesma estória se repetiu. Ao final, havia cocôs de cachorros por todos os lugares do palácio.

Apoplético, o rei chamou a ministrada e perguntou-lhes:

– O que fazer para nos livrarmos dos cachorros?

E eles responderam:

– É fácil, majestade. Basta trazer os leões.

Vieram os leões, com suas jubas e seus urros. Os cachorros, ao verem os leões, fugiram em desabalada carreira. Foram-se os cachorros, ficaram os leões. Mas os leões não só comiam cem vezes mais, como defecavam cem vezes mais. O tesouro real entrou em crise. O dinheiro não chegava para pagar a carne que os leões comiam. E para pagar os catadores de cocôs.

Desesperado, o rei chamou os seus ministros e indagou-lhes:

– Que fazer para nos livrarmos dos leões?

– É fácil, majestade – responderam-lhe. “Basta trazer os elefantes”.

E foram os leões e ficaram os elefantes. Enormes, eles comiam montanhas de comida e defecavam montanhas de fezes. O palácio real transformou-se em um enorme monte de bosta de elefante.

Em profunda depressão, o rei chamou os seus ministros e, com voz sumida, perguntou-lhes:

– Que fazer para nos livrarmos dos elefantes?

Os ministros se lembraram, então, que os elefantes, que nada temem, estremecem de medo ao verem um rato, e responderam em coro:

– É fácil, majestade. Basta trazer os ratos.

E assim foi feito. Voltaram os ratos. Foram-se os elefantes. E o rei e todos os que moravam no palácio passaram sorridentemente a conviver com os ratos e os seus cocôs.

Rubem Alves encerra a narrativa observando que chegaria o dia em que a sua neta terá crescido e ele não mais lhe contará estórias. Mas se um dia ela aprender sobre política e visitar Brasília, notará que a Capital, símbolo da democracia nacional, está cheia de cocôs de ratos. E aí ele repetirá a ela aquela velha estória e acrescentará:

– Aprenda a grande lição da democracia: é preferível cocô de rato à bosta de elefante.

 

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Uma ideia sobre “Bolsonaro venceu. E agora?

  1. jose

    Há uma cena do filme “A Sombra e a Escuridão” que sempre me vem a mente quando me deparo com fábulas como esta acima.
    O caçador Remington Charles conta que quando era criança havia dois irmãos que quando se juntavam era um terror e batiam em todo mundo, nele inclusive. O engenheiro Patterson lhe pergunta o que aconteceu com eles, ele respondeu: “eu cresci”.

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