11:28Cemitério Brasil

por Mário Montanha Teixeira Filho 

Sob o comando do capitão do Exército eleito em 28 de outubro, o Brasil de 2019 se prepara para virar um país de sangue e morte, um cemitério gigantesco. Pode soar exagerado, mas é o que se extrai do discurso monocórdio que o presidente eleito, Jair Messias Bolsonaro, repete há décadas. Orientado por marqueteiros e assessores políticos, o capitão se conteve nos momentos finais da campanha, valendo-se de atestados médicos que serviram para esconder a sua aversão a debates. Mesmo assim, encontrou espaço para ameaçar seus opositores e prometer levá-los ao cárcere, ao exílio ou à “ponta da praia” – referência a uma base da Marinha, no Rio de Janeiro, utilizada pela ditadura militar para a execução de “inimigos da pátria”. Isso foi dito a uma semana da eleição.

Bolsonaro é – e sempre foi – um notório incentivador da violência, um soldado cuja noção de segurança pública se resume a armar a população e dar licença para que as polícias atirem primeiro e perguntem depois. Esse “sistema” costuma fazer vítimas. E as vítimas preferenciais estão entre os moradores das periferias, os pobres, os desassistidos, as mulheres, a juventude, os negros, os indígenas e os LGBTs, entre outros grupos que formam as minorias.

Para os adeptos do bolsonarismo, o Brasil, território que dizem amar acima de tudo, poderá ser entregue a quem se dispuser a livrá-lo do atoleiro, do “comunismo” ou de qualquer outro inimigo a ser criado, ainda que mediante a apropriação das suas riquezas, da sua cultura e do seu destino. Não importa o preço. Importa que se estabeleçam limites e castigos aos que não se adaptarem ao novo regime – os destinatários da tortura que o capitão reverencia como método, do exílio ou da eliminação física.

Mas a tragédia bolsonariana não se resumirá à violência explícita. Manchas de sangue também brotarão de decretos de fechamento de escolas e hospitais públicos, da destruição do Sistema Único de Saúde, da revogação do que sobrou de leis trabalhistas, do fim da previdência pública, da censura e do controle militarizado das universidades. Essas possíveis medidas sintetizam, sem filtros, o ideário do comandante-em-chefe. São próprias de um ditador. Não há como relativizá-las.

Bolsonaro é um extremista de direita. Um neofascista primitivo. O que não significa dizer que o seu governo será necessariamente fascista. A probabilidade maior é que se abra, desde logo, um processo de reeducação do “mito”, do seu enquadramento às regras básicas de civilidade. As aparências e as relações internacionais, afinal, pedem um refinamento que o presidente eleito até agora não conseguiu incorporar. Pelas suas primeiras aparições, ainda no domingo em que se deu a votação fatídica, a tarefa será árdua. Naquele dia, acompanhado de alguns dos seus apoiadores mais bizarros, Bolsonaro protagonizou cenas constrangedoras. Depois de ignorar solenemente o Estado laico, numa roda de oração dirigida por um pastor-parlamentar, embaralhou-se na leitura de um punhado de ideias desconectadas e intenções vazias sobre um futuro incerto, reunidas por não se sabe quem.

O período que virá anuncia ações antipopulares contundentes e crise social profunda. As instituições funcionarão – elas funcionaram, lembre-se, no regime militar, sob a tutela de tanques e atos de exceção –, respaldadas numa Constituição que acabou de completar trinta anos em estado agônico, num Executivo medíocre e num Congresso ultraconservador. Eis o resultado da cruzada moralizadora que tomou conta da política nacional com a Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e o ativismo de juízes e membros do Ministério Público responsáveis pelo combate à corrupção, feito à margem de garantias processuais e princípios do direito. Esses atores, auxiliados por órgãos de comunicação que se habituaram a distorcer a realidade, produziram o fenômeno Bolsonaro. Eles e o PT, com seus erros monumentais e sua reconhecida incapacidade de autocrítica.

Venha o que vier, há retrocessos que já se consumaram. Retrocessos políticos, culturais e de costumes. O Brasil de hoje é um país carrancudo, excludente, careta, individualista, preconceituoso e desumano, submetido à narrativa de intolerância que as urnas consagraram. Sair do atoleiro em que se meteu, restabelecer a alegria perdida, negar o esmagamento da sua identidade nacional, tudo vai depender da capacidade de organização do seu povo. O desafio, agora, é evitar que o capitão consiga pôr em prática o programa de governo que suas intenções revelam. E que não fiquem dúvidas: isso não significa inconformismo de perdedor nem “torcer contra” os anseios da maioria; isso é apenas o exercício democrático da oposição, uma possibilidade que só não existe nas ditaduras.

Compartilhe

10 ideias sobre “Cemitério Brasil

  1. CrenDEUSpai

    É…todo melanciaman tem uma bola de cristal a observar sob seu ângulo. Só mesmo um bolsoradical para fazer acordar a população onde se meteria se reelegesse a esquerda-comuna-raspa tacho-corrupta. Aceitem ratoscomunas….que dói menos. Passagem de ida…Venezuela, Cuba…

  2. Jose

    Em que mundo este cara viveu nas últimas décadas?
    Nada mudou, o banho de sangue já existe e continuará a existir, Jair bolsonaro é antes de tudo uma forte expressão dos descontentes com a política das últimas décadas, com este faz de conta entre pt, psdb, mdb e outros.
    O texto é exemplar no que se refere a não saber o que se passa no País, típico de um socialista de iphone, sustentado pelo estado e que perdeu faz muito tempo a conexão com a vida real.
    E para finalizar, quem prometeu censura ( sugiro ler o plano de governo do pt) foi e tem sido justamente a gloriosa esquerda que ele tanto adora.

  3. Mito

    Que textão pobre, porém ilustrativo da fé cega que mencionei em outro comentário.

    Até parece que ainda ontem o Brasil era uma paraíso de paz, respeito, tolerância e progresso que só não faziam dele o protagonista da evolução da espécie humana porque “forças ocultas” não permitiam. E hoje é um inferno dantesco, uma terra de zumbis, um velho-oeste sem leis.

    Se ainda não perceberam, explico: não, os eleitores do Bolsonaro não são seguidores de uma seita, fanáticos crédulos ou crentes medíocres (salvo uma ou outra exceção, reconheço). São trabalhadores honestos, pessoas comuns que, simples assim, cansaram que sustentar uma máquina improdutiva e parasitária, cujo único subproduto é a miséria de muitos e a fortuna de poucos. Não querem portar armas; dão-se por satisfeitos se puderem portar suas carteiras na rua sem serem assaltados. E por aí vai…

    PS.: antes que façam alguma correlação, meu nick aqui no site é Mito muito tempo antes do Bolsonaro ser chamado assim, bem sabe o ZB. Acho até que eu poderia pedir royalties por isso…

  4. Célio Heitor Guimarães

    Bem-vindo seja, ó Da Montanha, uma das mais fulgurantes inteligências da praça! E que sabe escrever. Parabéns pela aquisição, mestre ZB!

  5. jorge

    “Sob o comando do capitão do Exército eleito em 28 de outubro, o Brasil de 2019 se prepara para virar um país de sangue e morte, um cemitério gigantesco.”

    Este esquerdista hipócrita -Mário Montanha Teixeira Filho – canalha, esquece que nos governos ” “progressistas”, os assassinatos, no Brasil do PT, ultrapassaram .62.000 POR ANO!!!!!!!!!!!
    é muita hipocrisia. Vá morar em Cuba ,Venezuela, Coréia do Norte etc..
    Ouvir os dois lados é a essência da democracia. Mas publicar isto no teu site é inaceitável

  6. Neto

    Nunca li tanta besteira escrita por alguém.
    Essa pessoa deveria escrever o que foi o corrupto governo petista.

  7. jose

    esse cara é um idiota, um esquerdão que acho que levou grana do governo do pt por isso está chiorando, choooora senta e chooora

  8. juarez

    Acabo de ler um amontoado de besteirol. A verdade é que o autor do texto precisa entender e digerir que a tolerância com corrupção e a bandidagem que quase acabou com o Brasil, termina em dezembro/2018.
    Em janeiro/2019, um conceito de Brasil novo deverá resgatado e posto em prática, justamente por aquele que, depois de quase ter sido eliminado de modo cruel e covarde por um pau mandado, resistiu aos ferimentos de uma “peixeira”. Certamente, o autor e/ou possíveis mandantes, não contavam que o futuro presidente fosse sobreviver ao golpe mortal, tornando assim inviável o caminho livre para a “esquerdalha” racionada, mas dominante, manter-se no poder por meio dos candidatos Haddad, Ciro ou Alckmin. Enfim, antes de ser eleito, o novo presidente teve de salvar-se primeiro. Felizmente, a sua agonia e resistência, fez com que a maioria do povo brasileiro que se importa com os destinos da nação despertasse do pesadelo de anos e anos, para que, a partir de janeiro/18, tenhamos novos e bons horizontes, e o resgate do ideal da bandeira nacional “ordem e progresso!!

  9. Sisi

    Me expliquem tanta bobagem junta em um mesmo texto: medo, sabe Deus porque, ou só ignorância mesmo?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.