5:42Gols contra

por Ruy Castro

“A democracia é a ciência e a arte de administrar o circo a partir da jaula dos macacos.” A frase é do jornalista, escritor e polemista americano H. L. Mencken (1880-1956) —e olhe que ele não viveu para ver Donald Trump na Presidência dos EUA.

Se a democracia mais sólida e experiente do mundo produziu Trump, era talvez inevitável que a nossa, tão jovem e ingênua, gerasse um Bolsonaro. A sorte dos americanos é que, em volta de Trump na Casa Branca, há homens dedicados a “esquecer-se” de cumprir suas ordens e esperar que ele também se esqueça —maneira discreta de neutralizar seu risco à paz mundial, ao comércio internacional, à defesa do ambiente e à própria democracia. Mas duvido que possa haver gente assim em volta de Bolsonaro no Planalto.

Pelas amostras, o que teremos será justamente o contrário. Quando um dos membros de seu “núcleo duro” —os filhos, o general vice, o economista, o coordenador da campanha— abre a boca, as instituições tremem. Um ameaça fechar o Supremo, outro fala em autogolpe e em revogar o 13º salário, o terceiro ameaça com novos impostos e o último quer extinguir cargos que não existem. Ao ser avisado sobre esses disparates, é o próprio Bolsonaro que sai correndo para apagar o incêndio. Mas, se tivermos de contar com Bolsonaro para a casa se manter de pé, convém sair de baixo. Afinal, já sabemos suas opiniões sobre ditadura, tortura, estupro, desmatamento, armas, gays, negros e mulheres.

Com tudo isso, Bolsonaro continua a ser levado a sério por empresários, economistas e militares supostamente responsáveis, para não falar na Regina Duarte e nas multidões que, bem provável, o elegerão neste domingo. Dali até 1º de janeiro, dia da posse, ele e seus conselheiros terão o direito de dizer e desdizer quantos absurdos quiserem.

Mas, a partir daí, cada gol contra cometido por ele ou por um dos seus irá para o placar.

*Publicado na Folha de S.Paulo   

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Uma ideia sobre “Gols contra

  1. Parreiras Rodrigues

    Ai, o comuno-petista Ruy Castro, atendendo a voz do dono, nos mandando votar em Haddad. O segundo poste do Lula. O primeiro, deu no que deu. O segundo, o primeiro prefeito paulista a se candidatar à reeleição e levar fumo no primeiro turno, perdendo em todas as seções.
    Ruy: A vassoura, a gente sabe, não presta, mas é a que temos a mão para varrer o lulismo para o lixão da História. Nem que risque o assoalho. Ou, já que estamos no Inferno, vamos abraçar com o capeta. Ou, vá encher o saco da vovozinha.

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