6:08Pesquisas eleitorais: para que ou para quem servem?

por Renato Andrade (*)

A cada eleição o brasileiro é inundado por uma série de pesquisas eleitorais que devem seguir uma normatização rígida elaborada pelo Tribunal Superior Eleitoral, sempre com a finalidade de estabelecer um resultado que retrate faixas etárias diversas; faixas de rendas e de moradias diferenciadas; cidades de pequeno, médio e grande porte e assim por diante. Por falta de orientação, pesquisas que não sigam tais critérios são indeferidas pelos tribunais regionais eleitorais e pelo TSE e não podem ser tornadas públicas.

Mas para que e para quem servem as pesquisas eleitorais? Qual o seu papel efetivo e útil nos períodos que antecedem a um pleito eleitoral?

Não vamos aqui entrar no debate de liberdade de imprensa, por favor! A imprensa no Brasil é livre e pode fazer as mais diversas consultas e matérias jornalísticas sobre perfis de eleitores; as tendências de cada região; a publicização das falas de todos os candidatos; a ampla divulgação dos debates e, agora, mais recentemente, combater o novel fenômeno das fake news, exponencialmente desenvolvidas a partir das redes sociais, e assim por diante. Mas insisto: e as pesquisas eleitorais, para que e para quem servem?

O princípio republicano adotado no Brasil do um homem um voto, que torna absolutamente equilibrada uma eleição que se pretende legítima e transparente deve ser o ponto de partida sobre a ética eleitoral, onde a vontade popular seja representada pelo sufrágio secreto, livre e individual de cada eleitor.

Nesse universo as pesquisas eleitorais de intenção de votos só se apresentam como uma forma nociva a mais de viciar a vontade popular; de criar as curvas ascendentes e descendentes de cada candidato, tentando influenciar diretamente no voto do eleitor a ponto de se tratar hoje até mesmo de um instituto eleitoral a que se denominou voto útil (?!). Isso é tão ou mais pernicioso que a própria corrupção eleitoral, como a compra de votos; o caixa dois de campanha ou o abuso do poder econômico.

As pesquisas eleitorais viciam a vontade do cidadão; mesmo que de forma inconsciente. Muitos eleitores são conduzidos a votar não naqueles que entendam ser o candidato mais próximo de sua vontade política de cidadão, mas naqueles que tenham, pelo retrato da pesquisa, mais condições de vencer o pleito. Os candidatos cantam hinos de louvor às pesquisas quando estão com resultados favoráveis e a criticam com veemência, apontando erros históricos nas suas conclusões. Ou seja, a pesquisa atinge diretamente a vontade do eleitor e o comportamento do candidato. Não servem, portanto, a ninguém que atuam como protagonistas da festa democrática.

Sobram então os próprios institutos de pesquisas, que ganham fortunas para realizá-las, e aqueles que tem o interesse de participar da formação da consciência do eleitor, qual seja, a mídia nas suas mais diversas formas.

“O resultado representa 95% de acerto”; “são dois pontos percentuais para cima ou para baixo”; “existe empate técnico” (seja lá o que for isso). São as frases mais ouvidas nas televisões e rádios, e referências nas mídias escritas no período pré-eleitoral. E lá vem uma infinidade de especialistas a debater a pesquisa eleitoral e como ela pode representar a vontade do eleitor. Não pensam por um único segundo na forma como se está manipulando essa mesma vontade. E o pior é a pesquisa eleitoral de boca de urna. Que excrescência! A quem interessa a pesquisa de boca de urna e porque ela é feita, se apenas pode ser divulgada com o fechamento das urnas eleitorais? Trata-se de um exercício de futurologia para dizer ao mundo quão acertadas são tais pesquisas, em uma nova forma de bola de cristal ou jogo de búzios de sortilégios? Ou apenas para criar um pano de fundo que legitime todas as pesquisas que antecedem ao pleito?

As pesquisas eleitorais não se prestam a nada e a ninguém que tenha um mínimo de ética em matéria eleitoral. Serve a quem por elas recebe e a quem por elas paga, para divulgação enganosa, porque ninguém audita tais pesquisas. Elas seguem o roteiro imposto pela Justiça Eleitoral e são registradas no TSE e TRE’s de todo o País. E o eleitor que faça sua escolha, inconscientemente, baseado em pesquisas que viciam sua manifestação de vontade.

As pesquisas eleitorais não são republicanas; não engrandecem a exigível liberdade de imprensa; não servem a partidos, a candidatos e muito menos ao eleitor.

As pesquisas eleitorais devem ser banidas do sistema eleitoral brasileiro, deixando para os institutos que a realizam missão mais nobre, como servir de caixa de ressonância da população para seus anseios legítimos nas áreas que mais lhe afetam, como número de creches e postos de saúde; como a criação ou não de mais delegacias de polícia; como programas de governo e suas prioridades que se utilizam do dinheiro público arrecadado por impostos. Mas nunca, jamais, para se prestar a um serviço sem dono e sem rosto que atenta apenas contra o direito inalienável de votar e ser votado com liberdade e independência.

(*) Renato Andrade é advogado e foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná.

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3 ideias sobre “Pesquisas eleitorais: para que ou para quem servem?

  1. João Mario Viana

    Muito bom o artigo, realmente esse advento das pesquisas não serve para nada do ponto de vista da contribuição para o processo democrático, apenas induz o eleitor a seguir aquele candidato que segundo as pesquisas está na frente, ou seja contribui para o efeito manada e desta forma contribui sim, mas de maneira muito negativa.

  2. Biito

    Desta vez saiu as entidades como CNI e CNT e entraram em campo os Bancos de Investimento para influenciar o Mercado e ganharem na especulação financeira.
    Desde a Empiricus até BTG e o tal XP.
    Bando de mercenários.
    Em 2002 um deles publicou uma pesquisa eleitoral presidencial do Brasil no maior jornal argentino.
    O ministro do TSE era o activista Nelson Jobim.
    Nada fez pois se publicassem no Brasil deveriam identificar o contratante e a verdade dos números.
    Canalhas.
    Todos.
    Ps – viram que sumiu o Institutofake do denunciado petista Marcos Coimbra – o Vox Populi?

  3. Frik

    “Devem ser banidas” – É bem forte, hein? Seria como banir o sonar da navegação marítima. Sem ele os Titanics iriam bater em icebergs a torto e a direito… As pesquisas em geral podem conter um grau de viés, mas elas ainda funcionam como um facho de luz na escuridão. E também como forma de prevenir o totalitarismo – inibindo tentativas de fraude nas apurações, por exemplo… (Se bem que o nosso sistema aqui é (dizem) invulnerável…) Será que é mesmo?

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