de Nelson Padrella
O porto de Lisboa não tem mar.
Como no Rio Grande
um rio grande
é o mar.
No castelo de São Jorge
soldados esperam a ordem de descansar
enquanto o rei Dom Manoel
conversa pacientemente com Vasco da Gama
sobre o caminho as Índias.
Chove em Lisboa a mesma chuva de Roma.
Uma mulher passa, apressada.
Eu olho. Não vejo nada.
Em Roma havia um perfume
de terra molhada.
Que fazemos em Lisboa
eu e Fernando Pessoa?
Gastamos a vida à-toa.
Sá-Carneiro, me empresta
teu tiro
para eu matar o meu tédio.
* Poesia do nosso mestre e colaborador escolhida pela Editora Chiado, de Portugal, para fazer parte III Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea “Além da Terra, Além do Céu” a ser lançada em outubro.
Molham-me lágrimas de emoção ao ler vossa coluna, Mestre Frei Beto.