10:50Doença infantil do esquerdismo

Por Ivan Schmidt 

Uma conclusão pode ser tirada pelos observadores da cena política brasileira a partir da disputa pela presidência da República com a qual concordo: Ciro Gomes (PDT) seria o candidato com a maior dose de probabilidade de derrotar num virtual segundo turno o oponente do Partido dos Trabalhadores (PT), mesmo que ele viesse a ser Luiz Inácio Lula da Silva, considerando-se a total impossibilidade de que isso aconteça sob pena de se lançar às traças quaisquer resquícios da existência de Justiça Eleitoral no país.

A hipótese seguinte, caso Jair Bolsonaro venha a ser o vencedor do primeiro turno, ainda estaria válida, recaiando sobre o ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, a maior chance de derrotar o messiânico candidato da extrema direita.

O quadro ajuda a melhor entender a veleidade demonstrada pelo PT em forçar a retirada da candidatura da vereadora recifense Marília Arraes (neta de Miguel Arraes) ao governo de Pernambuco. A cartada beneficia a candidatura à reeleição do atual governador Paulo Câmara (PSB).

Vale acrescentar que a luta de Ciro para conquistar o apoio do PSB pernambucano (como fez antes para atrair o Centrão), teve como motivação o fato notório de o partido reunir sua maior expressão nacional exatamente naquele Estado. Além disso, estariam garantido a Ciro alguns importantes palanques socialistas em vários Estados.

A contrapartida deu-se com o cancelamento do apoio do PSB ao candidato Ciro Gomes, que deverá entrar na campanha propriamente dita sem nenhuma coligação a seu favor, com miseráveis 26 segundos em cada bloco do horário eleitoral fixo de 12 minutos e trinta segundos.

Decisão igual foi tomada pela direção petista em Minas Gerais, onde o PSB esnobou a pretensão de Ciro Gomes de chegar à presidência da República adicionando a força do voto mineiro. A operação foi simples e resultou no esvaziamento da pré-candidatura ao governo do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda, fortalecendo os planos do governador Fernando Pimentel (PT) que tentará a reeleição.

Também no Estado de São Paulo a engenharia política do PT e PSB acabou beneficiando o atual governador Márcio França (PSB), que enfrenta problemas muito sérios em sua campanha, embora com a liberdade de marchar ao lado do hoje centrista Geraldo Alckmin (PSDB) na campanha presidencial. França foi vice-governador e assumiu o governo na condição de candidato socialista à reeleição.

Voltando ao tema principal, o saldo amplamente desfavorável à candidatura de Ciro Gomes, personalidade mercurial que apesar do não pequeno acervo de disparates verbais cometidos em ocasiões recentes (que deveriam ser evitados em função do preço a ser pago por eles), abusou dessa impensada recorrência na fase atual, vale dizer, espontaneamente se condenando a arcar com o isolamento que lhe será fatal em outubro.

Um comportamento, aliás, plenamente dispensável em alguém que alimenta o sonho de chegar à presidência da República.

Dito isso, lembremos que a fragmentação da esquerda brasileira, ou seja, a total impossibilidade de reunir as ideias convergentes em torno de candidatura única, pondo de lado diferenças de enfoque e visões estritamente pessoais, numa prova incontestável de regressão política, ao que parece se conformar com o comportamento esquizoide definido por Lenin como “doença infantil do esquerdismo”.

Em outras palavras, a galvanizada vocação para o separatismo ideológico, mesmo que seja esse o caminho mais rápido, segundo a história, para o ostracismo e a falta de importância no embate político.

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