por Nelson Padrella
Na parte mais profunda da floresta, lá aonde não vamos porque fica fora de todas as rotas, lá aonde nos aguarda o medo do nada que trazemos da infância, dizem que passa um córrego de água sempre muito fria e que aquela água canta nas pedras por onde passa. As poucas pessoas que se aventuraram a ir até a parte mais profunda da floresta voltaram maravilhadas, os olhos muito abertos de espanto e alegria, mas pouca coisa ou nada souberam revelar. Uns diziam que lá habitavam gnomos e outros seres mágicos, outros diziam ter ouvido a própria voz de Deus, mas todos eram unânimes em afirmar que a experiência de ir até a parte mais profunda da floresta deu – lhes a visão da felicidade. Todos beberam daquela água e sentiram – se mágicos e a magia consistia em conhecer o real significado da vida.
Apenas uma vez penetrei até a parte mais profunda da floresta, quando venci o medo da infância e buscava novas rotas para a vida. Encontrei o rio e as pedras, ouvi o canto da água e tudo se fez claro naquela parte mais escura da floresta. Sentado num trono inventado eu era Deus e as criaturas, eu era o silêncio e os sons, e me fascinei ao perceber que uma lágrima descia em minha face. Quando saí de lá pude entender porque as pessoas que visitavam aquele templo pouco ou nada tinham para contar. Assim como eu, não foi o rio que elas encontraram, não foi a pedra ou as ramas ou o escondido, a canção da água, o lugar. Na parte mais profunda daquela floresta cada um que ia lá encontrava a si mesmo e se maravilhava com todas as coisas belas que temos em nós, e só então entendiam que indo lá tinham penetrado na escuridão de sua própria floresta, que agora restava iluminada.
Lembrou dos versos de Garcilaso:
“… cuando Salicio, recostado
al pié de una alta haya en la verdura,
por donde una agua clara con sonido
atravesaba el fresco y verde prado…”