7:53Centrão está de volta

Por Ivan Schmidt 

O tristemente lembrado Centrão teve seu nascedouro anunciado aos quatro ventos no período em que o Congresso atuou como Assembleia Nacional Constituinte (ANC), que antes do final de 1988 apresentou para ser promulgada pelo então presidente Ulysses Guimarães como a “Constituição cidadã”, o resultado de vários meses de trabalho para dotar o país de nova carta magna.

Esse ano a Constituição de 88 completa 30 anos de vigência e, muitos de seus dispositivos sequer foram regulamentados por legislação infraconstitucional, ou o que quer que isso venha a ser, muito embora tenha recebido uma série de PECs (projetos de emenda constitucional), que só não podem mexer com as tais cláusulas pétreas, posto que muitos afirmem que não é bem assim.

Mas o que eu queria dizer é que o Centrão, formado por parlamentares de ideologia seguramente afinada com o pensamento de centro ou centro-direita – a constatação é de uma obviedade ululante – continua firme e forte a atuar no Congresso Nacional (Mateus, primeiro os meus), angariando em troca fartos nacos do butim que é governar.

Com atuação tímida durante os dois mandatos de FHC, mesmo esnobado pela ilusória superioridade dos tucanos paulistas, evidências concretas mostram que figuras do baixo clero (onde o Centrão dá as cartas), foram aliciadas para votar a favor do instituto da reeleição, aliciamento esse regado com copiosas quantias de dinheiro, o Centrão voltou faminto após a eleição de Lula, sob a gongórica denominação de aliança partidária de sustentação governamental, visto que o presidente não podia pagar o mico de governar isolado com o PT.

Foi assim também nos mandatos de Dilma, que governou com o apoio aberto de uma farândola de partidos também hipnotizados pelo régio quinhão de cargos ministeriais e posições de mando em empresas estatais e agências reguladoras, liberação de emendas e outros penduricalhos sempre cobiçados e conquistados pelos donatários de partidos políticos sem compromisso com a verdadeira governabilidade.

Exemplo: a nomeação de executivos para importantes setores administrativos da Petrobras, que resultou na abertura da porteira para a grossa corrupção na estatal. Ou seja, o legítimo teor dos métodos de operação da excrescência que no Brasil passou a atender pelo nome de Centrão.

Tanto isso é verdade, que pouco depois da aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, os partidos da base (com raras exceções) anunciaram a adesão ao governo de Michel Temer, fantasiosamente um governo de coalizão, mais uma vez para não abrir mão da teta oferecida pela cornucópia dos ministérios e outras fontes de empregos na estrutura pública federal.

Pois o Centrão continua vivo e com uma saúde de ferro, transitando com garbo inigualável pelo campo fragmentado do embate eleitoral ainda insipiente, se é que teremos nas próximas semanas o que possa ser chamado de embate. Fragmentação, aliás, que o Centrão ignora olimpicamente, porquanto já andou circunvagando ao redor de Jair Bolsonaro e Ciro Gomes, até descobrir que seu lugar estava disponível desde sempre no bivaque de Geraldo Alckmin, provavelmente em troca da indicação do vice-presidente e, óbvio, da farta participação no governo caso o tucano seja eleito.

A primeira tentativa foi o aceno feito a Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente de Lula, José Alencar, segundo os jornais, impossibilitada pela intimidade do atual presidente da Coteminas com o ex-presidente Lula, mas não com o Partido dos Trabalhadores cujo agir político está na contramão daquilo que pensa o rico empresário das Minas Gerais.

Então, para contrabalançar o peso eleitoral das candidaturas de Jair Bolsonaro e Ciro Gomes, diante da questão resolvida de que Lula não será candidato pelas razões que todos conhecem, a começar pela Justiça Eleitoral, o Centrão (PP, DEM, PRB e Solidariedade) acaba de desembarcar na campanha de Geraldo Alckmin com um buquê de possíveis candidatos a vice-presidente, nas pessoas do ex-ministro da Educação Mendonça Filho, senadora gaúcha Ana Amélia, empresário potiguar Flávio Rocha e o ex-deputado federal Aldo Rebelo, político de grande cotação na região Nordeste, apto a trazer apreciável gama de votos a Geraldo Alckmin, apesar de sua militância de 40 anos no Partido Comunista Brasileiro (PCB), divergência a ser imediatamente brandida pela ala liberal do tucanato.

No contexto da escolha do candidato a vice-presidente, seja uma dificuldade real ou apenas uma jogada de mestre dos principais nomes da disputa no aguardo da melhor hora para o anúncio, há de se reconhecer o esforço feito por Geraldo Alckmin para conquistar o apoio do senador Álvaro Dias (Podemos), a quem confiaria com imenso prazer a vaga de vice.

Políticos de estirpe bastante semelhante na moderação e equilíbrio, pequenas diferenças pessoais seriam facilmente administradas, a respeitabilidade do senador paranaense baseada na coerência de seus longos anos de militância como governador e parlamentar, daria à campanha de Alckmin um firme suporte na região Sul, da qual o candidato do PSDB, com certeza sairia com recheado farnel de votos.

Todavia, o esforço do ex-governador paulista não teve êxito e um novo grupo partidário formado por PRTB, Podemos, PSC, PRP, Patriotas, PTC, DC, Avante e PROS, anuncia a união em torno de candidato único à presidência, mesmo que o nome a ser indicado ainda seja desconhecido.

Siglas de reduzida expressão e rarefeita representação no Congresso, mesmo que a indicação recaia sobre Álvaro Dias, convenhamos, o atual realismo político reserva ao candidato paranaense escassa margem de esperança. Em sendo assim, o paulista de Quatá de coração paranaense, fiel torcedor do Corinthians, nascido para a política como vereador em Londrina, terá mais quatro anos no Senado.

 

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