20:44Quem chora pela Abril

por Dirceu Pio

Sem despertar muita surpresa, a notícia emergiu nas redes sociais: a poderosa editora das revistas Veja, Exame, Cláudia e etc etc etc está em agonia com um endividamento que chega quase a um bilhão de reais.

Há tristeza, comemorações e indiferença por toda parte.

Minha reação é de tristeza, menos pela debacle da Abril, previsível, esperada, e mais – muito mais – por assistir à implacável substituição da mídia papel por algo que ainda não sabemos o que é e como vai funcionar.

E o pior ainda está por vir: tudo ainda vai piorar muito antes de voltar a melhorar, como diria Alfred, o mordomo do Batman.

PERDAS E PERDAS

As perdas são enormes e a sociedade, ainda encantada pelo fascínio das novas mídias, não consegue percebê-las. A canalha da política, por ignorância ou safadeza, ajuda a confundir tudo referindo-se a todo momento à imprensa como se esta continuasse a existir.

A imprensa não existe mais. A soma da tiragem de toda a mídia impressa – incluindo a ex-poderosa Veja e seus similares, revistas ou jornais – tem menos alcance que um bom site noticioso e um jornal do tipo Folha de São Paulo não consegue derrubar mais nem um vereador de Araçoiaba da Serra.

Depois de destroçar a mídia impressa, a Internet mira seus canhões na TV aberta. Em mais dez anos, se tanto, não restará uma de pé. Num sinal claro do que vem por aí, minha faxineira Dayse, filhos, noras e genros viram os jogos da Copa em celulares e não reclamaram.

A SOCIEDADE MUDOU

A sociedade muda o jeito de se informar e se divertir. E, convenhamos: a internet é muito mais completa na oferta de uma e de outra coisa. E ainda oferece a interatividade como atração extra.

O drama, que nem todos percebem, é que a Internet é fragmentária, ilusionista e preconceituosa. E aqui residem as grandes perdas: promete conectar você ao mundo e põe os algoritmos para restringir conexões; por pura prestidigitação, faz com que você acredite em informações falsas; lhe oferece milhões de seguidores e faz você pensar que tem o poder na mão, e aí você espreme e vê que não sobra ninguém.

O problema é que você não tem mais escolha; ou segue a manada ou fica no desvio à espera que o lobo o apanhe.

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4 ideias sobre “Quem chora pela Abril

  1. Birn Neto

    Do ponto de vista da informação, hoje é melhor do que ontem… Não adianta resistir, deixar de enxergar a realidade. Veja o caso da Gazeta do Povo… Os Cunha Pereira não quiseram enxergar a realidade, resistiam maquiando, não querendo enxergar os novos tempos. Hoje os blogs conseguem ser mais ágeis e mais precisos que os grandes jornalões. Quem quer mudar, não se reforma e sim se transforma. É preciso ter coragem para aceitar que aquele produto bem-sucedido teve o seu ciclo de vida encerrado. E então, se reinventar. Voltando à Gazeta, tem mais de 100 milhões de reais em passivo trabalhista, a versão digital já era e a operação é bancada pela rede de tv. Tinha razão o Mariano Lemanski, sócio dos Cunha Pereira no jornal, quando vendeu a sua parte por 1 real. Não conheço Mariano, mas ele teve visão. Não adianta saudosismo, vamos olhar para a frente!

  2. kowalski

    Vivi a era do telefone fixo que precisava ser autofinanciado e demorava cinco anos para ser instaldo; a era do mimeógrafo; a era do telex; a era do fax; a era de ter que ir até uma biblioteca pública desatualizada. O mundo era melhor? Até a metade dos anos 1960 a informação dependia dos grandes jornais. Rio de Janeiro e São Paulo tinham jornais que circulavam pela manhã e outros que começavam a circular no final da tarde com notícias mais recentes. Revistas semanais como Cruzeiro, Manchete, Fatos e Fotos, Visão etc. eram fontes preciosas de informação. Sem esquecer das rádios… Depois passamos a viver a era dos telejornais em redes de televisão. Se hoje temos fake news, antes tínhamos informações dos grandes veículos de comunicação que, embora com aparente credibilidade, distorciam os fatos de acordo com as suas conveniências. A diversidade de informações de sites e blogs vai permitir que o leitor/internauta crie a sua própria percepção e se torne, finalmente, alguém com opinião própria. A vida toda tivemos leitores encabrestados, paus mandados da grande mídia, acreditando fielmente nas “verdades” do Estadão, da Folha, do Globo, da Gazeta… “A vida pode ser compreendida olhando-se para trás; mas somente pode ser vivida olhando-se para a frente” – Søren Kierkegaard. Bem-vindo ao mundo novo!

  3. Dirceu Pio

    Birn Neto e Kowalski – você complementaram com brilhantismo meu artigo, obrigado…Gostaria de acrescentar duas coisas: a)- em outro artigo publicado aqui nesta terça-feira – 24-07 – eu procuro alinhavar algumas vantagens e desvantagens da nova era…gostaria que vocês o lessem e o complementassem também b) – o grande problema desta nova era está na remuneração ou em como pagar as contas e ganhar dinheiro com a distribuição de notícias pela via eletrônica…temo que a Gazeta do Povo, como exemplo, ainda esteja bem longe do ponto…é preciso usar o meio eletrônico para despertar e atrair parcerias e eu só conheço uma empresa que começa a fazer isso corretamente no Brasil…obrigado e abraços

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