19:59TICIANA VASCONCELOS SILVA

PARTIDA

Fui buscar em palavras o destino de minha vida
E elas me falaram que ao encontrá-las eu saberia viver
Como uma régua que encontra consolo em uma linha
Eu poderia ver que os desenhos mais nítidos não são os da realidade
Mas sim os que consagraram no papel a sua intimidade
Eu quis ler os objetos e quis me opor às visões contrárias
Não para ser comum, mas para implodir as verdades extraordinárias
Ficar com os restos, me juntar aos desertos que construí em torno de mim
Mas as minhas atitudes não mudariam em um instante
Pois quanto mais eu escrevia, mais eu ficava distante
E não poderia encontrar a vida em sua fala mais potente
Que diz sempre para caminhar com o sol entre os dentes
Para mostrar que a dor não é mais forte que um amigo ausente
Todas as vezes que me vi em torno das palavras
Que me cobriam de desejos e me concederam a paz de um amor
Eu não pude me obstar de ter vontade de partir sem me despedir
Por que aqui eu deixei uma marca d’água
Em almas que se vestiram de olhos a observar metáforas
Substituí o caos por gotas de lágrimas que refletiram o vazio dos significados
E a existência se transformou em um grande pássaro
Que ocupou meus pensamentos até absorver toda sua racionalidade
Por isso, uso as palavras para me petrificar
Pois eu sei que algo em mim é puro e escuro
Já que não pude ser a vida sentida
Que eu seja a alma que vai sem partida

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