19:10ZÉ DA SILVA

A mulher que furava a bola que caía no quintal era feia como a fome na guerra. Ela tinha prazer em espetar a pelota sob as vistas da nossa turma, que jogava numa campinho descaído ao lado da casa dela. Furava com peixeira e devolvia. Então, sumia, feito bruxa com verruga cheia de pelos. O marido trabalhava, tinha uma cara doce, mas logo recebeu o apelido de corno lindo, por causa daquela peste onde tinha feito duas filhas bonitas. Um dia alguém flagrou o cachorrinho que ela tinha comendo uma galinha que também criava. Comendo no sentido sexual do termo. Foi um deus nos acuda porque o cão era tarado na penosa. Teve romântico que achou que era mesmo uma paixão avassaladora. Outro, criativo, disse logo que eles faziam sexo animal. O importante é que a dona dos dois animais não sabia que atitude tomar. Tempos depois a galinha sumiu – e como os garotos do futebol mantiveram uma certa discrição, ela nunca mais furou bola que caía lá. Devolvia – e até sorria pra gente. Mas para nós o marido não deixou de ser corno.

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