18:36ZÉ DA SILVA

O médico da piada disse que nos três minutos que me restavam de vida eu só poderia fazer um miojo. Fiz. Engasguei na pressa de engolir. Foi a minha salvação. Nunca quis saber o motivo, mas ao colocar tudo para fora, coloquei tudo para fora. Sim, havia um miojo para fazer no consultório. Isso aqui não é piada. É delírio. Preciso, de vez em sempre. Para tirar nós do peito e lacrar o departamento de lágrimas. Para averiguações. Ouço a voz de Agostinho dos Santos cantando tristeza não tem fim, felicidade, sim. Sou espancado pela memória seletiva. A taça da minha cabeça junta tudo e bate no liquidificador, tal e qual Wally, aquele poeta, Salomão. Referências. Sou muito disso e, nessas horas, onde quase tudo é cinza, fico pior porque sugo e colo na testa o que é dos outros. E eu? E eu? Aquele miojo, neste momento, é maldito. Ele me salvou e agora sinto ainda mais o gosto do autodesprezo.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.