por Yuri Vasconcelos Silva
Há uma certa obsessão nas cidades em ocupar vazios. Ocupem este lote cheio de mato. Ocupem este edifício abandonado. Encham aquela piscina de água. Preencham aquela empena branca com grafites. Sempre pensando no uso e função voltados ao bicho homem. Desse jeito, quadra a quadra, edifícios se erguem ligeiros sobre os antigos ou sobre os vazios. Envidraçados e refletivos, cheios de luzes, ruídos. As pessoas se encontram e se concentram em poucos metros quadrados, dependuradas em lajes, rindo alto, comendo e discutindo. Há mais guerra do que afeto nestes pavimentados dias.
E o espaço em branco das cidades? O amortecimento entre tantas paredes e gente? Há beleza num terreno cheio de mato. Não se trata apenas a ausência temporária da civilização. São outros seres e outros mundos. Flores vagabundas visitadas por borboletas ocasionais. Vento alisando o matagal. Refúgio de pardais e outros pássaros. Merecido descanso para o olhar aborrecido de tanto vidro e concreto mal ajambrado. Se na música o silêncio bem colocado compõe boas sinfonias, na poesia o espaço em branco é tão necessário quanto o escrito, por que enfiar construção ou gente em todos os suspiros da cidade?
Caro José – Acabei de ler esse texto sensível que se encaixa na realidade das grandes cidades. Aqui em Campo Grande – MS – esse fenômeno da depredação do verde também ocorre. Parabéns ao autor pela leveza do texto. Continua acompanhando-o diariamente. Segue a vida.
…e nos parques, nas bordas das suas matas, os saguis pastando.