21:12ZÉ DA SILVA

Negro enorme, com cara de índio, costas largas, sempre vestindo uma camisa social branca, gasta, aberta até o meio do peito, mangas dobradas perto dos cotovelos, uma calça mal ajambrada de tergal e, invariavelmente, carregando um jornal dobrado embaixo do braço. Ele entrava na lanchonete, pedia uma batida de amendoim – e dá-lhe conversa com o adolescente que atendia no balcão e bebia informações no tempo em que o jornalismo não era essa coisa pavorosa de hoje. E ele falava dos jornalistas que escreviam nos chamados grandes periódicos, como se dizia. Encantava o garoto, porque parecia tão íntimo e, claro dizia que já tinha passado por algumas redações e trabalhado junto com as grandes estrelas da profissão. Era, pois, o ponto de contato com os ídolos do menino da vila e os que o encantavam com assuntos e textos de primeira. Isso durou algum tempo, até que um dia, por acaso, o adolescente teve de ir ao Centro da cidade, perto da redação do maior jornal da época. Então ele viu o seu amigo trabalhando. Era guardador de carro. Anos mais tarde, profissional da área, o que ouvia as histórias teve certeza de que aquele que bebia a batida bem devagar poderia ter sido dos bons – se é que saberia escrever do jeito que falava e inventava.

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