18:54ZÉ DA SILVA

Acho que me deram um tiro na boca porque estava sorrindo demais. E lá se foi a obturação perfeita que fez desaparecer o buraco bem na frente do tempo em que tudo estava caindo na vida. Não era Rinso o que consumia, mas sim o que corroía. A bala não me matou, porque se fosse para morrer, não teria nascido. Engoli e sabia amarga, porque sempre foi assim. Antes, 24 horas por dia, sete dias por semana, 30 dias por mês, 12 meses por ano – exceção a alguns delírios como viagens alucinógenas, mas sem pontos de LSD. Depois da sobrevivência, ressurreição sem morte física ou mental, o gosto do fel foi rareando, mas pingava, saído do famoso conta-gotas cujo funcionamento é acionado na esquina, de surpresa, nos esbarrões externos e também internos. Dúvida: quantos somos, mesmo? Já dei nomes aos meus anjos e demônios, reconhecidos na Terra do Sol. Por isso ainda estranho quando levo tiros, que podem sair da tela da vida ou da arma de grosso calibre do próprio pensamento. Só que aprendi, nestes casos, a baixar o fogo, me recolher à fantástica insignificância da existência. Também, quem mandou ficar mostrando os dentes ao imaginar que viu a luz da ilusão?

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