6:50Crise de autoridade. E a culpa é nossa

por Célio Heitor Guimarães

A cidade maravilhosa do Rio de Janeiro continua batendo os seus próprios recordes. De desamparo e de violência. Neste Carnaval, enquanto o samba evoluía na Marques de Sapucaí, os bandidos tomavam conta da orla, do Leme ao Leblon, sob o olhar estupefato de policiais civis e militares, da Guarda Metropolitana e do Exército. Marginais de sandália de dedos, bermuda e camiseta, quando não de dorso nu, de arma em punho, faziam a festa na areia das praias ou nas proximidades delas. Assaltos, furtos, arrastões e agressões. Tudo a céu aberto, sob a luz do sol ou da lua, aos olhos de uma população atônita, aterrorizada e desprotegida. Enquanto isso, o governador Pezão descansava a sua incompetência na tranquilidade de Piraí, a 90 km da Capital, e o prefeito Crivella, ex-bispo da Universal do Reino de Deus, aprendia segurança pública em Frankfurt… na Alemanha. Seus antecessores, como se sabe, estão na cadeia ou a caminho dela.

Não sei o que fazer para resolver o problema do Rio de Janeiro. Que não é de hoje e se alastra tragicamente. Mas sei a causa. É a falta de governo, a falta de autoridade, a falta de administração, a falta de políticas públicas, a falta de decência, a falta de caráter e a falta de vergonha das autoridades que fingem administrar o Estado e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Praticamente todo o Brasil está contaminado pela ação nefasta e criminosa de maus gestores, de delinquentes travestidos de administradores públicos. Tome-se como exemplo o governo central de Brasília. Mas no maravilhoso Rio de Janeiro a coisa fugiu do controle, por menor que ele fosse. A cidade está dominada pelos bandidos, o tráfico de drogas e de armas avança com bravura, as quadrilhas de marginais disputam território entre si e enfrentam os agentes da repressão com displicência e arrogância, o cidadão – quando consegue dormir – acorda com o tiroteio matinal e reza para que uma bala perdida não lhe alcance dentro de casa, ou a um de seus filhos, no pátio de uma escola.

Nas histórias de antigamente, as feras, como o pobre Lobo Mau, viviam nas florestas. E bastava uma casinha bem feita ou a presença de um caçador e sua espingarda salvadora para tranquilizar Os Três Porquinhos, Chapeuzinho Vermelho e a vovó. Hoje, os lobos, chacais, coiotes e demais bestas vivem nas cidades. E o perigo trocou os lugares ermos e distantes pela vizinhança de nossas casas. Está nas ruas, nos jardins, nos quintais, nas escolas, nos supermercados, nos shopping centers, nos bem guardados edifícios de apartamentos e até nos quartéis e nas delegacias policiais.

Apavorados, trancamo-nos em casa. Passamos a ser prisioneiros em nossas próprias fortalezas, cercados de grades e medo. Mas os lobos modernos sabem como abrir portas, dominar os caçadores e silenciar as grandes cidades. E a culpa é nossa.

Aí, a vontade de chorar se transforma em raiva. Uma imensa raiva de nós próprios, os chamados cidadãos-reféns, incapazes, sequer, de escolher bem os seus governantes, aquelas autoridades que, por dever de ofício, deveriam zelar por nós, dar-nos condições e, sobretudo, segurança para que possamos ao menos viver.

Mas essas autoridades – particularmente as cariocas e fluminenses –, além de omissas, são caçadores sem faro. Ou, pior, talvez sejam os lobos-mores, os chefes das matilhas, os patifes e canalhas, que, valendo-se da ignorância do povo, ascendem ao poder e do alto da impunidade, fomentam o aparecimento das mais diversas quadrilhas. Algumas delas, nos morros cariocas, outras com sedes nas penitenciárias de segurança máxima. Ou então no Congresso Nacional e até mesmo no Palácio do Planalto.

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2 ideias sobre “Crise de autoridade. E a culpa é nossa

  1. Sergio Silvestre

    Pois é,lá eles fazem arrastões com sandálias e bermudas ,aqui eles vão de blusa de lã e gorros,até por que a violência não é privilegio dos cariocas,ela avança como metastasse pelo Brasil inteiro.
    Mas falar de pequenos roubos ,de invasão de comércios,por que não falar daqueles que são o pivo de tudo,aqueles que não usam sandálias nem bermudas ,mas usam ternos bem cortados e roubam com muita classe os 200 milhões de brasileiros.
    E quando os pensadores,formadores de opinião opinam,deveriam se calar e rezar muitos terços e tomar umas 500 chibatadas por ter pecado.
    Se eles já velhos não conseguiram através dos seus textos,palestras e ate a frente de uma sala de aula,formar bons médicos ,advogados e engenheiros,aqueles que poderiam fazer dessa rica nação uma potencia e dar dignidade a seu povo,parece que viram as costas para sua Patria e tentam no salve-se quem puder livrar o seu da reta.
    A conta social está ai para ser paga,o Pais está pegando fogo graças a anos de catequização de uma rede de tv que tem time e até escola de samba preferida.
    Enquanto isso o bravo povo brasileiro que luta para sobreviver com salario minimo e olha lá,desce o morro e começa querer ganhar espaço e a guerra entre pobres e ricos foi deflagada,mas a grande batalha ainda não começou.

  2. Parreiras Rodrigues

    Ensandecido, SS transfere, do lulopetismo a uma emissora de tevê, as fraturas expostas do organismo chamado Brasil.
    A violência, SS, recrudesceu justamente no período de governança de Lula e Dilma quando foi disseminada a prática do “eles contra nós”, da Casa Grande x Senzala, e tem seu auge agora quando o o líder da maior organização criminosa já instalada em Brasilia, afronta o Judiciário, e seus paus mandados, como Gleici, Lindberg, Stédille, e outros de somenos importância esculhambam juízes, ministros.
    A marginália entende que se os seus representantes assim se comportam, os seus exemplos devem ser seguidos.

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