De Fernando Muniz
“Leve junto. Melhor. Veraneio fora de época é perigoso”.
Chegam, se instalam e aproveitam o dia, de sol e praia vazia. Sem filhos nem compromissos. Férias, afinal.
À noite, lembra-se do aviso. Vasculha a mala e encontra o Taurus calibre 38. Nem sabe por que aceitou. Ao contrário do amigo, dono da casa, até faz discursos contra revólveres.
A esposa se assusta. “Pra quê isso?”
“Precaução”.
Costuma dormir igual defunto; desta vez, ao menor barulho se levanta e inspeciona a casa, de Taurus em punho. A esposa também se agita.
Amanhece e nada. “Graças a deus essa noite passou. Só que eu não quero mais ficar aqui. Muito cansativo”. A esposa junta as roupas, jogando tudo na mala, de qualquer jeito.
Ele dá um suspiro, de alívio. Mas junto vem um desânimo, um vazio, em especial ao guardar o Taurus.
Sem uso.