5:57Catherine Deneuve pede desculpas

Do jornal O Globo:

Catherine Deneuve explica manifesto e pede desculpas às vítimas que se sentiram ofendidas

Em carta enviada ao jornal francês Libération, a atriz Catherine Deneuve esclarece sua posição a respeito do manifesto publicado no jornal Le Monde na semana passada. O artigo, assinado por um coletivo de mulheres faz críticas ao movimento #MeToo, que denuncia situações de abuso e assédio sexual cometidas em Hollywood. Diante da polêmica gerada em torno do documento, que considera o movimento ‘puritano’ e defende a “liberdade de importunar” dos homens, considerada por elas “indispensável para a garantir a herança da liberdade sexual, a atriz afirma, nesta carta, que o texto do manifesto que assinou não defende o assédio: “Nada no texto afirma que o assédio é bom, caso contrário eu não teria assinado”, e sustenta que ama liberdade, criticando o fato de pessoas serem expostas por seus erros, sofrendo punições arbitrárias e “linchamento midiático” e chama atenção para o risco de “suicídio de inocentes”.

Ao reafirmar a autoria do manifesto, a atriz ressaltou discordar de interpretações dadas ao texto:

“Sim, eu assinei a petição e então, me parece absolutamente necessário hoje enfatizar minha discordância com a forma de como algumas signatárias reivindicaram o direito de se difundir nas mídias, distorcendo o espirito do texto. Dizer em um canal de TV que se pode desfrutar durante um estupro é pior do que cuspir na face de todos os que sofreram este crime. Essas palavras não só sugerem aos que têm o hábito de usar a força ou a sexualidade para destruir que isso não é tão grave, porque, ao final a vítima tem prazer. Mas quando assinamos um manifesto que envolve outras pessoas, estamos de acordo, evitamos embarcar em sua própria incontinência verbal. É indigno. E, obviamente, nada no texto afirma que o assédio é bom, caso contrário, eu não o teria assinado.”

Antes de encerrar a carta com o termo “Sinceramente”, Deneuve responde às críticas de “não ser feminista” lembrando que foi uma das 343 mulheres — além de Marguerita Duras — que assinaram o manifesto “Eu fiz um aborto”, escrito por Simone de Beauvoir em 1971 e se despede.

“Às vezes, fui criticada por não ser feminista. Lembro-me de que eu era uma das 343 putas com Marguerite Duras e Françoise Sagan que assinaram o manifesto “Eu tive um aborto” escrito por Simone de Beauvoir. O aborto foi punido com penalidades e prisões na época. É por isso que eu gostaria de dizer aos conservadores, racistas e tradicionalistas de todos os tipos que acham estratégico me apoiar que não me engano. Eles não terão minha gratidão nem minha amizade, pelo contrário. Sou uma mulher livre e continuarei assim. Saúdo fraternalmente todas as vítimas de atos odiosos que podem ter se sentido ofendidas por este fórum publicado no “Le Monde”. É para eles e a elas apenas que apresento minhas desculpas.”

Veja abaixo outros pontos da carta de Catherine Deneuve.

Liberdade

‘Sim, eu amo a liberdade. Não amo essa característica de nossa época em que cada um se sente no diretio de julgar, de arbitrar, de condenar. Uma época onde simples denúncias nas redes sociais resultam em punições, demissões e por sua vez linchamento midiático. Um ator pode ser apagado digitalmente de um filme, o diretor de uma grande instituição nova-iorquina pode ser forçado a renunciar por ter posto as mãos sobre nádegas há trinta anos sem qualquer outra forma de julgamento. Eu não desculpo nada. Eu não posso decidir sobre a culpa destes homens porque não sou qualificada para isso. E poucos são.”

 

“Sim, não sou inocente, bem mais homens que mulhres, que estão sujeitos a estes comportamentos. Mas no que esta hashtag não é um convite à delação? Quem pode me assegurar que não haverá manipulação ou golpe baixo? Que não haverá suicídios de inocentes? Nós devemos viver juntos, sem “porcos” ou “putas”.”

Educação e justiça

“Sou atriz desde os 17 anos. Naturalmente, posso dizer que testemunhei situações mais do que delicadas, ou que eu sei de outras atrizes que os cineastas abusaram covardemente de seu poder. Não vou falar no lugar das minhas irmãs. O que cria situações traumáticas e insustentáveis é sempre o poder, a posição hierárquica ou uma forma de influência. A armadilha fecha quando se torna impossível dizer não sem arriscar o emprego, ou sofrer humilhação e sarcasmo degradantes.

Acredito que a solução virá da educação de nossos meninos e meninas. Mas, possivelmente, também protocolos em empresas, que induzem que, se houver assédio, que os processos sejam imediatamente iniciados. Eu acredito na justiça.”

Leia mais: https://oglobo.globo.com/sociedade/catherine-deneuve-explica-manifesto-pede-desculpas-as-vitimas-quem-se-sentiram-ofendidas-22287742#ixzz54Ems06xh
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