por Fernando Muniz
Franzino e só, luta contra os empurrões na fila da imigração.
Sente fome. No navio, nada parava no estômago. Olha para os quiosques junto à porta da aduana, oferecendo comidas que nunca viu iguais.
Um funcionário nota o olhar de cobiça daquele quase-menino. Sente piedade e entrega a ele uma coisa amarela, meio esverdeada, por certo um vegetal.
Ele agradece com um aceno de cabeça e se põe a decifrar o presente. O que comer daquilo? Espia ao redor; ninguém está interessado no seu drama e sim em ganhar as ruas, logo de uma vez. Envergonha-se de perguntar, e, mesmo que tente ninguém entenderia a sua língua.
Resolve arriscar. Aperta o vegetal e, dele, sai o que pode ser um caroço. Joga-o fora e come a casca.
De banana.
*Inspirado em passagem do livro “O Texto, ou: a Vida”, de Moacyr Scliar.