14:44Novo Mundo*

por Fernando Muniz

Franzino e só, luta contra os empurrões na fila da imigração.

Sente fome. No navio, nada parava no estômago. Olha para os quiosques junto à porta da aduana, oferecendo comidas que nunca viu iguais.

Um funcionário nota o olhar de cobiça daquele quase-menino. Sente piedade e entrega a ele uma coisa amarela, meio esverdeada, por certo um vegetal.

Ele agradece com um aceno de cabeça e se põe a decifrar o presente. O que comer daquilo? Espia ao redor; ninguém está interessado no seu drama e sim em ganhar as ruas, logo de uma vez. Envergonha-se de perguntar, e, mesmo que tente ninguém entenderia a sua língua.

Resolve arriscar. Aperta o vegetal e, dele, sai o que pode ser um caroço. Joga-o fora e come a casca.

De banana.

*Inspirado em passagem do livro “O Texto, ou: a Vida”, de Moacyr Scliar.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.